São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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GRIFE TABELADA
Preço sugerido é mais alto que o praticado

Asbea cria software para incentivar arquitetos a cobrarem valores maiores em projetos de menor porte

DA REPORTAGEM LOCAL

O tabelamento de preços de algumas das estrelas da arquitetura e da decoração, benéfico para o bolso por estabelecer um teto para os que temem um orçamento estratosférico, alivia pouco o problema mais comum na hora de pagar por esse tipo de serviço no mercado brasileiro -a falta de critério para definir o valor de um projeto.
ABD (Associação Brasileira de Designers de Interiores), Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) criaram tabelas e fórmulas para balizar a cobrança (veja quadro), mas não há lei ou determinação que obrigue os profissionais a segui-las.
"Nossa tabela é uma referência, mas não é obrigatória", afirma o presidente do IAB, Arnaldo Martino, 66. "Vemos de tudo no mercado, mas a maioria cobra muito menos do que deveria devido à competição pelos clientes."
A arquiteta e decoradora Lilian Fraga, assídua freqüentadora de catálogos de mostras, diz que é difícil o profissional conseguir cobrar o preço de tabela, pois "o cliente tende a achar que não é certo pagar pela propriedade intelectual".
"Há quem cobre muito abaixo da tabela e tire mercado de quem adota o parâmetro da associação", compara. Fraga conta que, para projetos de decoração, costuma pedir os valores mais altos sugeridos pela ABD.
Luciano Imperatori, 36, sócio da Hochheimer Imperatori Arquitetura, concorda que "muitos profissionais sacrificam o preço para não perder o trabalho".

Parcelado
A arquiteta e decoradora Bya Barros, 45, divulga sua tabela -valores por metro quadrado de área decorada que decrescem à medida que aumenta a metragem- até em seus cartões de visita. "E ainda divido o pagamento em seis vezes", complementa.
Ela diz que o preço inclui a mão-de-obra de profissionais de sua equipe especializados em cada etapa do trabalho -plantas baixas, estudos de iluminação e de instalações de som e TV, especificação de materiais, texturas e cores.
Barros admite que complementa o orçamento com outro procedimento costumeiro no mercado brasileiro. "Recebo das lojas e fábricas de 5% a 10% do valor gasto pelo cliente", calcula. "Mas ele pode indicar seus fornecedores de preferência."
O leque de trabalhos realizados é ampliado com os preços tabelados, comenta Barros. "Com o valor justo, faço desde pequenos flats até mansões com mais de 700 m2."

Software
A Asbea criou, há três meses, uma nova proposta para padronizar o sistema de cobrança dos arquitetos -um software que calcula o preço de acordo com os custos do profissional.
"Em dez ou 15 dias, vamos disponibilizá-lo em nosso site para os associados [320 empresas no país]", prevê o presidente, Ronaldo Rezende, 53.
"Futuramente, deveremos comercializá-lo. Ele calcula todos os custos de um determinado escritório de arquitetura, da depreciação dos equipamentos à compra de softwares, e, com base neles, sugere um preço por hora trabalhada", descreve.

Preços maiores
Rezende admite que quem adotar o software tenderá a puxar seus preços para cima, em relação aos atuais, especialmente para projetos menores.
"Hoje, a maioria dos arquitetos cobra um percentual do custo da obra e muitas vezes tem prejuízo", relata.
"Apenas os mais "estrelados" têm maior poder de barganha e podem cobrar um percentual maior. O preço calculado pelo software é mais próximo da realidade de cada escritório, pois considera 80 itens de custo. O cliente pode até "dar um pulo", mas o valor é mais justo."
Antes de pensar no critério de cobrança, quem vai contratar um arquiteto ou decorador precisa se preocupar com a qualidade do trabalho.
Martino, do IAB, recomenda que se busquem profissionais que tenham sido indicados por alguém conhecido. Imperatori aconselha "ligar para os clientes do escritório e observar sua fidelização -quantas vezes uma mesma pessoa contratou o serviço, por exemplo". (EV)


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