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Declarações contraditórias ampliam crise no Vaticano
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A cacofonia de declarações
contraditórias que o Vaticano
entoa desde que cresceu o escândalo envolvendo padres pedófilos ganhou tons mais altos
e cores de gafe nesta semana. O
número dois da Santa Sé decidiu ligar o abuso de menores ao
homossexualismo, e o porta-voz da Igreja Católica se viu depois obrigado a tentar conter
danos distorcendo a fala.
Na quinta, Bento 16 interrompeu seu silêncio papal para
dizer que era preciso que a
Igreja Católica também se penitenciasse por seus pecados
-a declaração mais contundente até agora, embora ele já
tenha criticado em carta aos irlandeses o comportamento de
padres e bispos que cometeram
ou acobertaram os crimes.
Poucos ouviram. Muito mais
eco teve a declaração de seu
braço direito, o cardeal Tarcisio
Bertoni, de que a pedofilia tinha ligação com o homossexualismo e não com o celibato,
como defendem os teólogos
que pedem o fim do regime de
abstinência sexual dos sacerdotes para conter o problema.
Depois, o porta-voz Federico
Lombardi teve de desdobrar
números e fatos para dizer que
Bertoni citava só a incidência
na igreja, onde 60% dos casos
envolvem o mesmo sexo.
Curioso é que na mesma semana o Vaticano voltou atrás
"ao contrário". Depois de publicar regras internas para os sacerdotes procederem em caso
de suspeita de pedofilia, que recomendam a denúncia à Justiça civil, um bispo contemporizou que na Itália, por exemplo,
a lei não obriga a isso.
Com tantas idas e vindas,
cresce a impressão de que o Vaticano minimiza a questão. Ao
atribuir as acusações a uma
campanha suja da mídia, faz
com que elas se pareçam pouco
importante aos seus olhos.
Quando Bento 16 completar
amanhã cinco anos de papado,
pouco terá a comemorar. Sua
mensagem de amor divino está
se perdendo no burburinho de
acusações, denúncias, críticas e
gafes em que a igreja imerge.
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