São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Declarações contraditórias ampliam crise no Vaticano

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A cacofonia de declarações contraditórias que o Vaticano entoa desde que cresceu o escândalo envolvendo padres pedófilos ganhou tons mais altos e cores de gafe nesta semana. O número dois da Santa Sé decidiu ligar o abuso de menores ao homossexualismo, e o porta-voz da Igreja Católica se viu depois obrigado a tentar conter danos distorcendo a fala.
Na quinta, Bento 16 interrompeu seu silêncio papal para dizer que era preciso que a Igreja Católica também se penitenciasse por seus pecados -a declaração mais contundente até agora, embora ele já tenha criticado em carta aos irlandeses o comportamento de padres e bispos que cometeram ou acobertaram os crimes.
Poucos ouviram. Muito mais eco teve a declaração de seu braço direito, o cardeal Tarcisio Bertoni, de que a pedofilia tinha ligação com o homossexualismo e não com o celibato, como defendem os teólogos que pedem o fim do regime de abstinência sexual dos sacerdotes para conter o problema.
Depois, o porta-voz Federico Lombardi teve de desdobrar números e fatos para dizer que Bertoni citava só a incidência na igreja, onde 60% dos casos envolvem o mesmo sexo.
Curioso é que na mesma semana o Vaticano voltou atrás "ao contrário". Depois de publicar regras internas para os sacerdotes procederem em caso de suspeita de pedofilia, que recomendam a denúncia à Justiça civil, um bispo contemporizou que na Itália, por exemplo, a lei não obriga a isso.
Com tantas idas e vindas, cresce a impressão de que o Vaticano minimiza a questão. Ao atribuir as acusações a uma campanha suja da mídia, faz com que elas se pareçam pouco importante aos seus olhos.
Quando Bento 16 completar amanhã cinco anos de papado, pouco terá a comemorar. Sua mensagem de amor divino está se perdendo no burburinho de acusações, denúncias, críticas e gafes em que a igreja imerge.


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