São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009


Motivos de Paula Oliveira serão investigados

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

De mártir da xenofobia a protagonista de uma farsa mirabolante, Paula Oliveira, 26, percorreu ao longo das últimas duas semanas uma vertiginosa trajetória que colocou familiares, público, autoridades e imprensa numa verdadeira montanha-russa e testou os limites entre fato e versão.
Até sua veracidade ser demolida pela polícia suíça, a história de Paula parecia ter todos os elementos de uma fábula que não deixava dúvidas de quem são os vilões, e quem é a vítima: uma jovem tem o sonho de ser mãe destruído por neonazistas que entalham com uma faca em sua pele o símbolo de um partido que tem fobia a imigrantes.
As chocantes imagens da navalha na carne de Paula logo se tornaram um eloquente símbolo do ódio aos estrangeiros, em uma Europa mergulhada na recessão e tentada pelo protecionismo econômico.
Tudo parecia se encaixar, num roteiro feito sob medida para um escândalo internacional: neonazistas, gravidez perdida, a agressão quando Paula falava com a mãe e a tortura que deixou na pele da imigrante a marca da maldade. Um roteiro com requintes de filme, como a suástica tatuada na nuca de um dos três agressores e uma gravidez de gêmeas.
Mas na última quinta-feira a versão desmoronou: era tudo mentira, confessou a própria Paula, segundo a Justiça suíça. Na comunidade brasileira na Suíça, que pensou em ir às ruas em solidariedade à brasileira, Paula passou de mártir a vilã.
Na condição de vítima do racismo, até ser desmascarada como algoz de si mesma, Paula arrancou até um gesto de solidariedade do presidente Lula, criando um mal-estar diplomático entre Brasil e Suíça.
Socorrida por um pai ao alcance de amigos influentes, Paula propagou rapidamente sua história, num espetáculo público cujas razões, além de um mórbido exibicionismo, ainda são um mistério que a Procuradoria de Zurique está tentando desvendar.
A partir dos próximos dias, quando Paula prestará depoimento pela primeira vez como suspeita e na presença de seu advogado, duas dúvidas dominarão os interrogatórios: qual o motivo da automutilação? Ela agiu sozinha? Respostas nos próximos capítulos.


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