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Motivos de Paula Oliveira serão investigados
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
De mártir da xenofobia a protagonista de uma farsa mirabolante, Paula Oliveira, 26, percorreu ao longo das últimas
duas semanas uma vertiginosa
trajetória que colocou familiares, público, autoridades e imprensa numa verdadeira montanha-russa e testou os limites
entre fato e versão.
Até sua veracidade ser demolida pela polícia suíça, a história
de Paula parecia ter todos os
elementos de uma fábula que
não deixava dúvidas de quem
são os vilões, e quem é a vítima:
uma jovem tem o sonho de ser
mãe destruído por neonazistas
que entalham com uma faca em
sua pele o símbolo de um partido que tem fobia a imigrantes.
As chocantes imagens da navalha na carne de Paula logo se
tornaram um eloquente símbolo do ódio aos estrangeiros, em
uma Europa mergulhada na recessão e tentada pelo protecionismo econômico.
Tudo parecia se encaixar,
num roteiro feito sob medida
para um escândalo internacional: neonazistas, gravidez perdida, a agressão quando Paula
falava com a mãe e a tortura
que deixou na pele da imigrante a marca da maldade. Um roteiro com requintes de filme,
como a suástica tatuada na nuca de um dos três agressores e
uma gravidez de gêmeas.
Mas na última quinta-feira a
versão desmoronou: era tudo
mentira, confessou a própria
Paula, segundo a Justiça suíça.
Na comunidade brasileira na
Suíça, que pensou em ir às ruas
em solidariedade à brasileira,
Paula passou de mártir a vilã.
Na condição de vítima do racismo, até ser desmascarada
como algoz de si mesma, Paula
arrancou até um gesto de solidariedade do presidente Lula,
criando um mal-estar diplomático entre Brasil e Suíça.
Socorrida por um pai ao alcance de amigos influentes,
Paula propagou rapidamente
sua história, num espetáculo
público cujas razões, além de
um mórbido exibicionismo,
ainda são um mistério que a
Procuradoria de Zurique está
tentando desvendar.
A partir dos próximos dias,
quando Paula prestará depoimento pela primeira vez como
suspeita e na presença de seu
advogado, duas dúvidas dominarão os interrogatórios: qual o
motivo da automutilação? Ela
agiu sozinha? Respostas nos
próximos capítulos.
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