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URBANIDADE
São Paulo, de Lula
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
A partir de hoje, com a
posse de Luiz Inácio Lula
da Silva, São Paulo ganha o status não-oficial de segunda capital
do Brasil -um cenário onde, informalmente, as grandes decisões
federais serão tramadas e articuladas.
Nunca, em toda a sua história,
a cidade foi residência e ponto de
encontro de tanta gente politicamente influente. Assemelha-se
agora ao que foi o Rio de Janeiro
por algum tempo, depois de
transferida a capital do país para
Brasília. Por muito tempo, e com
certa razão, os cosmopolitas cariocas desdenharam os paulistanos, que, deslocados das intimidades da corte, eram vistos como
provincianos. E até hoje existe
quem defenda a volta da capital
para o Rio, local supostamente
com mais história para abrigar a
cúpula da política brasileira.
São Paulo é o ponto de confluência natural ou de passagem
obrigatória do presidente e dos
ministros da Fazenda, da Casa
Civil, do Desenvolvimento, da
Agricultura, da Previdência, da
Justiça e do Planejamento, além
do presidente do Banco Central,
um goiano cuja vida profissional
está ligada à cidade, onde mantém uma casa.
Aqui moram ou passam com
destino ao interior do Estado o assessor de imprensa, o porta-voz e
o chefe da comunicação, assim
como o presidente do PT, o futuro
líder do governo no Senado e o
responsável pelo programa contra a fome, a mais importante
bandeira social da primeira fase
da administração de Lula. Não é
só.
Além dos novos donos do poder
federal, São Paulo abriga o quartel-general de Fernando Henrique Cardoso, candidato a principal formador de opinião do país.
Já conta com o mais poderoso governador e a mais poderosa prefeita, além dos principais líderes
sindicais e empresariais. Eventualmente um acordo social poderá ser anunciado em Brasília,
com pompa e circunstância, mas,
certamente, terá sido articulado
na cidade.
Essa confluência de tanta gente
poderosa em somente uma cidade é uma ironia. Nem o mais ferrenho e esnobe dos quatrocentões
paulistanos, fluente em francês e
íntimo da cultura européia, sonharia em fazer politicamente pela cidade o que fez um migrante
nordestino.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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