São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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URBANIDADE

São Paulo, de Lula

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A partir de hoje, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, São Paulo ganha o status não-oficial de segunda capital do Brasil -um cenário onde, informalmente, as grandes decisões federais serão tramadas e articuladas.
Nunca, em toda a sua história, a cidade foi residência e ponto de encontro de tanta gente politicamente influente. Assemelha-se agora ao que foi o Rio de Janeiro por algum tempo, depois de transferida a capital do país para Brasília. Por muito tempo, e com certa razão, os cosmopolitas cariocas desdenharam os paulistanos, que, deslocados das intimidades da corte, eram vistos como provincianos. E até hoje existe quem defenda a volta da capital para o Rio, local supostamente com mais história para abrigar a cúpula da política brasileira.
São Paulo é o ponto de confluência natural ou de passagem obrigatória do presidente e dos ministros da Fazenda, da Casa Civil, do Desenvolvimento, da Agricultura, da Previdência, da Justiça e do Planejamento, além do presidente do Banco Central, um goiano cuja vida profissional está ligada à cidade, onde mantém uma casa.
Aqui moram ou passam com destino ao interior do Estado o assessor de imprensa, o porta-voz e o chefe da comunicação, assim como o presidente do PT, o futuro líder do governo no Senado e o responsável pelo programa contra a fome, a mais importante bandeira social da primeira fase da administração de Lula. Não é só.
Além dos novos donos do poder federal, São Paulo abriga o quartel-general de Fernando Henrique Cardoso, candidato a principal formador de opinião do país. Já conta com o mais poderoso governador e a mais poderosa prefeita, além dos principais líderes sindicais e empresariais. Eventualmente um acordo social poderá ser anunciado em Brasília, com pompa e circunstância, mas, certamente, terá sido articulado na cidade.
Essa confluência de tanta gente poderosa em somente uma cidade é uma ironia. Nem o mais ferrenho e esnobe dos quatrocentões paulistanos, fluente em francês e íntimo da cultura européia, sonharia em fazer politicamente pela cidade o que fez um migrante nordestino.

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