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Prefeitura vai desapropriar ex-moradia da Poli/USP
Prédio, chamado de Cadopô, acolhia os estudantes carentes de fora de São Paulo
Imóvel deve abrigar um anexo do Arquivo Histórico Municipal; o Grêmio da Poli, atual proprietário, defende a criação de centro cultural
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo
deu início à desapropriação da
Casa do Politécnico, a "Cadopô" da USP, um dos berços do
movimento cultural e político
da cidade nos anos 50 e 60
-quando o governador José
Serra (PSDB) usava suas dependências para articular o
movimento estudantil que o levou à presidência da UNE
(União Nacional dos Estudantes) durante o regime militar.
O prédio de oito andares, no
Bom Retiro (centro de SP), será
um anexo do Arquivo Histórico
Municipal, sob protestos do
Grêmio da Poli, atual dono do
imóvel, que defende a criação
de um centro cultural na casa.
O arquivo mantém hoje 4,5
milhões de documentos que
datam de 1555 a 1921. Por falta
de espaço, há documentos
guardados provisoriamente. A
Cadopô deve receber registros
históricos de 1922 a 1970.
Em dezembro, o prefeito Gilberto Kassab (PFL) publicou
decreto que torna a área de utilidade pública, primeiro passo
da desapropriação. Em seguida,
fará uma avaliação do valor do
imóvel para fixar uma proposta
de indenização ao grêmio.
A diretora eleita da entidade,
Haydée Svab, afirmou que a diretoria vai discutir se tentará
impedir a desapropriação na
Justiça. ""Nossa proposta é que
um centro cultural seja incorporado ao projeto, não algo que
ficará fechado, morto."
História
A Cadopô foi construída na
década de 1950 para abrigar estudantes carentes que vinham
a São Paulo cursar a Escola Politécnica da USP, que funcionava ao lado do terreno da casa.
O local recebeu moradores
como o secretário de Estado da
Cultura, o cineasta João Batista
de Andrade, expulso da casa e
da Poli pelo regime militar em
1964. Ele era militante do PCB.
""A casa tem uma história fantástica. O sétimo era o andar
vermelho, por causa da atividade política dos grupos de esquerda. O Serra não morava,
mas vivia lá fazendo reuniões.
O Almino Afonso [ex-ministro]
sempre ia dar palestras", diz.
A Cadopô foi usada como
moradia estudantil até os anos
1970. Foi caindo em desuso
com o tempo e sofreu invasões
até 12 anos atrás, quando o grêmio obteve a reintegração de
posse do imóvel na Justiça.
O imóvel acumulou dívidas e
hoje há cerca de R$ 250 mil em
pendências de IPTU, o que será
descontado da desapropriação.
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