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MISTICISMO
Goiana de 80 anos, que diz conhecer só erva-doce e camomila, prescreve combinações inexplicáveis para entendidos
Dona-de-casa receita ervas que desconhece
da Reportagem Local
"De plantas, só conheço erva-doce e camomila", ela costuma dizer enquanto comanda a casa e o fogão. À noite, quando se
senta à mesa grande da sala, mais
parece uma especialista em ervas
medicinais. É capaz de, olhando
apenas para um papel onde está o
nome e a idade do paciente, identificar a doença e compor receitas
complexas.
"Dona Filhinha", como é conhecida, é apontada por seus pacientes como uma mulher de dons
sensitivos excepcionais. Atende
pedidos há 60 anos. É avessa a fotos, entrevistas e à divulgação de
seu nome e endereço.
Dona Filhinha, que parece mais
jovem, completou 80 anos no dia
22 e foi homenageada pelos filhos
e amigos com uma missa na igreja
da Cruz Torta, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Estava feliz
e bem-humorada.
Assim como seus amigos e "pacientes", dona Filhinha também
não sabe de onde vem sua intuição
nem seus conhecimentos de fitoterapia. "O que ela faz está completamente fora da avaliação racional", diz Lúcio Mario Nicolosi,
um dos seus genros e proprietário
da farmácia Philippe de Lyon.
A farmácia, em Pinheiros, é especializada em medicamentos homeopáticos e é ali que são aviadas
quase todas as receitas.
Philippe de Lyon foi um magnetizador e religioso francês importante nos meios ocultistas do início do século. Vem daí a crença de
que dona Filhinha receberia o espírito de Philippe -o que não é
verdade, afirma Nicolosi. Ela não é
espírita, não dá passes, não benze
nem faz cirurgias.
Combinação de plantas
Suas receitas são sempre à base
de ervas medicinais. "Quando alguém chega aqui com uma indicação de dona Filhinha e pergunta
para que serve, a gente não sabe
dizer", afirma o genro. "As pessoas que tentaram avaliar a combinação de plantas que ela faz chegaram a um impasse."
Nicolosi prefere não opinar se as
receitas passadas curam ou não,
mas observa que o uso de ervas é
uma tendência cada vez maior na
medicina. "Não acredito em bruxos, mas me intriga o fato de certas coisas funcionarem e não terem explicação."
Funcionária pública aposentada, dona Filhinha é vista pelos
amigos como uma pessoa despojada. "É uma mulher que se doa
aos outros, devota, que chega a rezar pedindo cura para os doentes", diz uma corretora de seguros que a conhece há 30 anos.
"Ela costuma dizer, "não tenha
apego a nada; tudo que você der,
receberá em dobro'", diz a amiga.
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