São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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MISTICISMO
Goiana de 80 anos, que diz conhecer só erva-doce e camomila, prescreve combinações inexplicáveis para entendidos
Dona-de-casa receita ervas que desconhece

da Reportagem Local

"De plantas, só conheço erva-doce e camomila", ela costuma dizer enquanto comanda a casa e o fogão. À noite, quando se senta à mesa grande da sala, mais parece uma especialista em ervas medicinais. É capaz de, olhando apenas para um papel onde está o nome e a idade do paciente, identificar a doença e compor receitas complexas.
"Dona Filhinha", como é conhecida, é apontada por seus pacientes como uma mulher de dons sensitivos excepcionais. Atende pedidos há 60 anos. É avessa a fotos, entrevistas e à divulgação de seu nome e endereço.
Dona Filhinha, que parece mais jovem, completou 80 anos no dia 22 e foi homenageada pelos filhos e amigos com uma missa na igreja da Cruz Torta, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Estava feliz e bem-humorada.
Assim como seus amigos e "pacientes", dona Filhinha também não sabe de onde vem sua intuição nem seus conhecimentos de fitoterapia. "O que ela faz está completamente fora da avaliação racional", diz Lúcio Mario Nicolosi, um dos seus genros e proprietário da farmácia Philippe de Lyon.
A farmácia, em Pinheiros, é especializada em medicamentos homeopáticos e é ali que são aviadas quase todas as receitas.
Philippe de Lyon foi um magnetizador e religioso francês importante nos meios ocultistas do início do século. Vem daí a crença de que dona Filhinha receberia o espírito de Philippe -o que não é verdade, afirma Nicolosi. Ela não é espírita, não dá passes, não benze nem faz cirurgias.

Combinação de plantas
Suas receitas são sempre à base de ervas medicinais. "Quando alguém chega aqui com uma indicação de dona Filhinha e pergunta para que serve, a gente não sabe dizer", afirma o genro. "As pessoas que tentaram avaliar a combinação de plantas que ela faz chegaram a um impasse."
Nicolosi prefere não opinar se as receitas passadas curam ou não, mas observa que o uso de ervas é uma tendência cada vez maior na medicina. "Não acredito em bruxos, mas me intriga o fato de certas coisas funcionarem e não terem explicação."
Funcionária pública aposentada, dona Filhinha é vista pelos amigos como uma pessoa despojada. "É uma mulher que se doa aos outros, devota, que chega a rezar pedindo cura para os doentes", diz uma corretora de seguros que a conhece há 30 anos.
"Ela costuma dizer, "não tenha apego a nada; tudo que você der, receberá em dobro'", diz a amiga.



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