São Paulo, sexta, 1 de janeiro de 1999

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CASO DINIZ
Após 46 dias, chilenos e argentinos aceitam proposta do governo de antecipar transferência; brasileiro irá para o CE
Sequestradores encerram greve de fome

ANDRÉ LOZANO

da Reportagem Local

AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

Os sequestradores do empresário Abílio Diniz encerraram ontem a greve de fome que mantinham havia 46 dias.
A decisão foi anunciada às 11h15 em frente ao Instituto Central do Hospital das Clínicas pelo porta-voz do grupo, Breno Altman, que participou de reunião de uma hora e 25 minutos com os sequestradores, o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP) e o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Os cinco chilenos e os dois argentinos aceitaram a proposta do governo brasileiro de antecipar sua remoção para seus países antes da aprovação do tratado de transferência de presos pelos Legislativos dos três países envolvidos (Brasil, Argentina e Chile).
O único brasileiro do grupo, Raimundo Costa Freire, aceitou o compromisso do governo de transferi-lo para uma prisão especial no Ceará, seu Estado natal.
Ele deve permanecer no Corpo de Bombeiros ou no Quartel General da PM de Fortaleza, até que a Justiça local julgue seu pedido de liberdade condicional.
Os presos estrangeiros estarão sujeitos à decisão da Justiça de seus países para a concessão de benefícios. Segundo Greenhalg, os sequestradores devem permanecer entre quatro e cinco dias no HC para recuperação física, antes de viajar.
Já o embaixador do Chile, Juan Martabit, calcula que os sequestradores só terão condições físicas de viajar em cerca de dez dias.
Sobre a transferência do brasileiro e a concessão do livramento condicional -que não constam em nenhum documento oficial-, os sequestradores afirmaram, por meio do porta-voz, que encaram "com otimismo o que foi proposto pelo governo federal".
"Fundamental para a decisão dos presos foi o governo brasileiro ter dado demonstração de boa vontade", disse Lula, que afirmou ter ido ao HC para "fazer um apelo" para que os sequestradores encerrassem a greve.

Argentinos
Somente os sequestradores chilenos do empresário Abílio Diniz já podem pedir transferência para cumprir o resto da pena no país natal. Os dois argentinos ainda não estão liberados.
Ao contrário do anunciado anteontem pelo Ministério da Justiça brasileiro e pela embaixada argentina, o governo argentino não decidiu se aceita a antecipação do acordo de transferência de presos.
Ontem, o ministro Renan Calheiros (Justiça) só assinou a antecipação da vigência do tratado com o embaixador do Chile. O embaixador da Argentina no Brasil, Jorge Herrera Vegas, não compareceu ao ato.
"Recebemos a proposta de antecipação ontem (anteontem). A Argentina não pode se pronunciar em prazo tão curto. Penso que não haverá problemas, mas a resposta só virá na semana que vem", disse o embaixador da Argentina.
Antes do fim da greve de fome dos presos, ele havia afirmado que o governo argentino não iria agir sob pressão dos sequestradores. O Ministério da Justiça, segundo sua assessoria, classificou de "sensata" a decisão dos presos de encerrar a greve de fome.
"O governo brasileiro cumpriu sua parte, em nenhum momento cruzou os braços diante do problema", afirmou Calheiros, ao assinar a antecipação do acordo com o Chile.
Calheiros reafirmou que a situação do brasileiro Raimundo Costa depende de decisão da Justiça do Ceará sobre a progressão de sua pena.



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