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São Paulo, sábado, 01 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Defesa alega que vítima tentava intimidar Farah Jorge Farah e vários parentes; cirurgião não participará de reconstituição

Paciente ameaçava médico, diz advogado

DA REPORTAGEM LOCAL

A defesa do cirurgião plástico Farah Jorge Farah, assassino confesso da sua paciente Maria do Carmo Alves, 49, vai tentar provar que a vítima vinha fazendo ameaças constantes, inclusive de morte, ao médico e a seus parentes. Segundo o advogado Roberto Podval, as ameaças foram reveladas nos testemunhos de uma sobrinha e do tio de Farah ontem, no 13º DP (Casa Verde).
"Não queremos justificar o crime, mas mostrar em que cenário foi cometido", afirmou Podval.
Segundo o advogado, Angélica Farah, sobrinha do médico, disse à polícia que as ameaças foram intensas nos últimos três anos e teriam aumentado quando uma namorada do cirurgião foi morar com ele. A agressividade também era frequente quando o médico se aproximava de outras mulheres, disse o advogado.
Angélica, ainda de acordo com o advogado, afirmou que secretárias do consultório e pacientes também eram insultadas ou ameaçadas de morte. Uma das assistentes de Farah chegou a pedir demissão, disse ela.
Maria do Carmo foi esquartejada no último dia 24, na clínica de Farah, em Santana (zona norte). Preso na segunda, o médico confessou o crime, mas disse que sofreu um lapso de memória em relação aos detalhes do assassinato.

Perseguição
O médico instalou identificadores de chamadas telefônicas na casa de parentes. Em um único dia, Maria do Carmo Alves teria ligado cerca de 800 vezes para o telefone de Farah, de acordo com um dos processos de Farah na Justiça.
Segundo o advogado, os parentes também eram intimidados pela paciente, que queria reatar seu relacionamento com o médico.
O depoimento de Angélica e Sleman Farah, tio de Farah, segundo o advogado, durou cerca de três horas.
Podval diz que Farah moveu processos civis e criminais contra a paciente, além de fazer boletins de ocorrência. A Folha teve acesso a dois processos, que estariam na relação de Podval. Em 13 de junho de 2002, Farah entrou com um pedido de medida cautelar na 8ª Vara Cível de Santana, que visava identificar o autor das chamadas e ameaças.
Questionado sobre a ação, Podval disse que a medida era o primeiro passo para que Farah pudesse processar a paciente. "De outro modo, sem provas sustentáveis, a Justiça poderia entender um processo contra Maria do Carmo como calúnia."
O documento diz que os telefonemas causavam prejuízos materiais, por congestionarem as linhas telefônicas do consultório, e abalavam o médico emocionalmente. O processo foi indeferido e uma nova ação foi entregue à 3ª Vara Criminal Regional de Santana, no dia 30 de setembro. Essa ação ainda não foi julgada.
Segundo o advogado, o médico não participará da reconstituição do crime, que estava marcada para amanhã. "Como ele não lembra de nada, a presença dele na reconstituição do crime não ajudaria e agravaria o seu estado."
(LUIS RENATO STRAUSS)


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