São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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SAIA JUSTA
Afinal, sexo oral é ou não adultério? (abaixo) lembra que o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter considerava adultério a simples cobiça à mulher alheia. O deputado Fernando Gabeira (à esq.) diz, de brincadeira, que o sexo oral é mais prático

A deputada Ester Grossi (abaixo) acredita que o casamento de Clinton e Hillary é, na verdade, um contrato político e que ela prefere o chifre a perder o posto de primeira-dama dos EUA; o secretário Reynaldo de Barros (à esq.) diz que não é de trair Mylene Macedo conta que já correu de parlamentar em volta da mesa PAULO SAMPAIO
da Reportagem Local

Sexo oral é menos "grave" do que o com penetração? Alguns adúlteros sustentam que a prática do sexo oral não chega a ser traição. Segundo a imprensa norte-americana, o presidente dos EUA, Bill Clinton, é um deles.
Clinton tenta se defender da acusação de adultério feita por moças que, em gravações não divulgadas ou ao vivo, afirmam ter praticado apenas sexo oral com ele. Políticos e especialistas brasileiros tentam entender a democracia americana.
"O Jimmy Carter, grande comedor de amendoim, dizia no mandato dele que cobiçar a mulher alheia já era adultério. Agora me vem o Clinton com essa do sexo oral. E então?", pergunta o senador Esperidião Amim, do PPB. "Qual é a escola de sexologia dos democratas americanos?"
O pragmatismo
A escola dos americanos, na opinião do deputado Fernando Gabeira (PV), é o pragmatismo.
"O sexo oral é a saída mais prática quando se trata de um homem muito ocupado. Não requer que ele se levante da cadeira, nem que desligue o telefone."
Gabeira brinca, mas a psicóloga Clarice Skalcowics afirma que já ouviu em sua clínica muitas histórias de mulheres que praticam apenas sexo oral com o chefe.
"Vejo muito no consultório esse tipo de relacionamento rápido entre subordinada e chefia", diz.
"Essas mulheres não fazem o sexo oral por tesão, mas por achar que o poder 'passa' pelo falo. Existe uma fantasia de que com o executivo é melhor. Quando o executivo é o presidente dos Estados Unidos, a fantasia aumenta." Aumenta a fantasia e, segundo Clarice, tudo fica mais fácil. "O sexo oral no escritório é rápido, direto e, por isso, razoavelmente garantido. Em qualquer situação, o homem consegue a ereção", diz. A sexóloga Marta Suplicy, assim como o evangélico Francisco Rossi, recusou-se a participar do debate. "Quando houver algo pertinente, eu respondo. Não essa baixaria", disse a sexóloga. O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PPS), que recentemente desmentiu ter afirmado que "a monogamia é uma violência", mandou dizer pela secretária, Luiza, que ele por hora não está falando "sobre comportamento".
Escândalo
Bill Clinton afirma que não teve contato íntimo com a moça do sexo oral, Monica Lewinsky. Mas, se ficar provado o contrário, o presidente dos Estados Unidos pode ter sérios problemas.
O adultério no Brasil é crime. Segundo especialistas, porém, dificilmente essa situação evoluiria para um escândalo político das mesmas proporções.
"O código de moral do brasileiro é completamente diferente", diz o advogado criminalista Paulo José da Costa Jr., professor de direito penal na USP. "Se acontecesse algo parecido aqui, a própria população ficaria do lado do presidente", acredita. Algumas mulheres que trabalharam perto do poder, em Brasília, chegam a rir quando se fala em escândalo político por sexo oral.
"Já me aconteceu até de sair correndo de parlamentar, em volta da mesa, na época em que fui assessora no Congresso Nacional. Brasília é uma loucura. Se sexo ali tivesse essa dimensão, estaria todo mundo processado", diz Mylene Macedo, 30, que fez carreira também nas páginas da "Playboy" e atualmente é apresentadora do programa "Mulher Maçã", no canal adulto da TVA (leia depoimento abaixo).
Para a deputada Ester Grossi (PT-RS), que nunca precisou correr em volta da mesa, tudo depende da relação que se estabelece com o poder.
"A própria Hillary Clinton prefere ser mulher de um sujeito poderoso, ainda que ele ponha chifre nela, do que perder o posto de primeira-dama. Com a Jackie Kennedy, era a mesma coisa. Michelle Mitterand teve de engolir a amante do marido no enterro dele", lembra Ester.
Em São Paulo, o secretário municipal de Vias Públicas, Reynaldo de Barros, diz que não é disso, não. Disso o quê, secretário, sexo oral? "Não, estou falando de traição. Sexo oral, então, menos ainda. Dou minhas cacetadas, mas é sexo tradicional."









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