São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2000


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ANÁLISE

Falta de escolaridade causa discrepância salarial

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

Má distribuição de educação é sinônimo de má distribuição de renda, num círculo vicioso - quanto menor o acesso ao conhecimento menor o acesso à renda.
Na era da informação, marcada pela sofisticação crescente da qualificação profissional, importa o princípio de que o indivíduo vale quanto sabe.
O relatório da Unesco mostra a discrepância salarial a partir da escolaridade.
Um dos campeões mundiais de má distribuição de renda, o Brasil acaba despontando na disparidade de rendimentos a partir do grau de escolaridade: um profissional com pós-graduação ganha, em média, 3,5 vezes a mais do que o trabalhador com nível médio. Apenas uma minoria chega ao ensino médio, embora o número de matrículas seja crescente e acelerado.
Quem, no Brasil, tem ensino superior ganha quase cinco vezes mais do que quem só completou as primeiras oito séries.
Entre os 22 países listados na pesquisa, o Brasil aparece como o primeiro em discrepância salário-escolaridade. Nos Estados Unidos, um profissional com pós-graduação ganha em torno de 83% a mais do que quem só completou o colegial. Ainda nos Estados Unidos, quem tem superior completo ganha 76% a mais do que o trabalhador com ensino fundamental.
O relatório da Unesco traduz em números o risco de marginalização para quem não acompanha a exigência de qualificação profissional.
Uma sociedade marcada pelo analfabetismo funcional como a brasileira produz pleno emprego para quem carrega diploma de faculdade. Segundo IBGE e Fundação Seade, a taxa de desemprego para quem tem ensino superior giraria em torno de 3%.
O Brasil até despeja em educação uma quantia compatível com as nações mais desenvolvidas, levando-se em conta o Produto Interno Bruto.
O gasto anual com um aluno de ensino fundamental e médio, no Brasil, é de, respectivamente, R$ 637 e R$ 826 - um aluno de faculdade sai, por ano, R$ 8,2 mil.
Nos Estados Unidos, um aluno de faculdade custa, por ano, R$ 12 mil; ensino fundamental R$ 4 mil e médio R$ 5 mil.
Mesmo com todos os dados que exibem a indigência da educação brasileira, especialmente na base, o relatório aponta a vinculação direta entre o grau de escolaridade e as demandas econômicas.
No geral, o Brasil coloca mais alunos nas escolas, reduz a repetência e a evasão. O principal fato do relatório aponta a evolução da expectativa de vivência escolar das crianças com cinco anos de idade - pulou de 10 anos em 1991 para 12,7 anos em 1997. Longe ainda da média dos países desenvolvidos, de 15 anos.


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