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CARNAVAL
Enredo da União da Ilha fala sobre movimentos culturais que contestaram o regime
"Emergente" banca carro que mostra resistência a militares
MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio
O carro abre-alas da União da
Ilha para o Carnaval deste ano, no
enredo que fala sobre os movimentos de resistência cultural ao
regime militar (1964-85), teve seu
custo bancado pela "emergente"
Ariadne Coelho.
Mulher do empresário Jair Coelho, conhecido como o "Rei das
Quentinhas" por ter enriquecido
fornecendo marmitas com refeições prontas aos presídios e delegacias do Rio, Ariadne sairá como
destaque no abre-alas.
O custo médio de um carro alegórico gira em torno de R$ 50 mil
a R$ 60 mil, segundo presidentes
de escolas e carnavalescos consultados pela Folha.
Procurada pela reportagem,
Ariadne disse que preferia não falar sobre o assunto.
A ajuda financeira da "Rainha
das Quentinhas" foi um dos expedientes usados pela União da Ilha
para conseguir colocar na rua o
seu desfile, orçado em R$ 1,3 milhão, segundo o presidente da escola, Alfredo Fernando da Silva, o
Alfredo Fumaça.
O abre-alas, com dois tanques
cobertos de flores, será a síntese
do enredo "Pra Não Dizer que
Não Falei de Flores", mesmo título da música de Geraldo Vandré
que virou uma espécie de hino de
contestação aos militares.
O carnavalesco Mário Borriello
desenvolveu o tema lembrando as
diversas manifestações artísticas e
culturais surgidas na época.
A primeira parte lembrará o Cinema Novo, com uma alegoria
sobre o filme "Deus e o Diabo na
Terra do Sol", de Glauber Rocha.
A seguir, virá o setor dedicado à
MPB. Um carro representará as
canções "Carcará", de João do
Vale, e "Viola Enluarada", de
Paulo Sérgio e Marcos Valle.
Na sequência, desfilarão os setores sobre a resistência no teatro
e na imprensa. Haverá alegorias
alusivas à peça "Rasga Coração",
de Oduvaldo Vianna Filho, e ao
jornal "Pasquim".
Os dois últimos setores falarão
da resistência política, como os
exilados políticos, representados
no carro "O Barco da Volta", e
alegorias sobre a estilista Zuzu
Angel -morta em 76 num acidente automobilístico suspeito de
ter sido provocado por agentes repressivos, quando investigava o
assassinato do filho, um ativista
contra o regime.
O carnavalesco diz que desde 98
desejava fazer um enredo sobre o
período militar e aproveitou o fato de, este ano, todas as escolas
usarem temas relativos aos 500
anos do Brasil.
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