São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2000


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CARNAVAL
Enredo da União da Ilha fala sobre movimentos culturais que contestaram o regime
"Emergente" banca carro que mostra resistência a militares

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

O carro abre-alas da União da Ilha para o Carnaval deste ano, no enredo que fala sobre os movimentos de resistência cultural ao regime militar (1964-85), teve seu custo bancado pela "emergente" Ariadne Coelho.
Mulher do empresário Jair Coelho, conhecido como o "Rei das Quentinhas" por ter enriquecido fornecendo marmitas com refeições prontas aos presídios e delegacias do Rio, Ariadne sairá como destaque no abre-alas.
O custo médio de um carro alegórico gira em torno de R$ 50 mil a R$ 60 mil, segundo presidentes de escolas e carnavalescos consultados pela Folha.
Procurada pela reportagem, Ariadne disse que preferia não falar sobre o assunto.
A ajuda financeira da "Rainha das Quentinhas" foi um dos expedientes usados pela União da Ilha para conseguir colocar na rua o seu desfile, orçado em R$ 1,3 milhão, segundo o presidente da escola, Alfredo Fernando da Silva, o Alfredo Fumaça.
O abre-alas, com dois tanques cobertos de flores, será a síntese do enredo "Pra Não Dizer que Não Falei de Flores", mesmo título da música de Geraldo Vandré que virou uma espécie de hino de contestação aos militares.
O carnavalesco Mário Borriello desenvolveu o tema lembrando as diversas manifestações artísticas e culturais surgidas na época.
A primeira parte lembrará o Cinema Novo, com uma alegoria sobre o filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha.
A seguir, virá o setor dedicado à MPB. Um carro representará as canções "Carcará", de João do Vale, e "Viola Enluarada", de Paulo Sérgio e Marcos Valle.
Na sequência, desfilarão os setores sobre a resistência no teatro e na imprensa. Haverá alegorias alusivas à peça "Rasga Coração", de Oduvaldo Vianna Filho, e ao jornal "Pasquim".
Os dois últimos setores falarão da resistência política, como os exilados políticos, representados no carro "O Barco da Volta", e alegorias sobre a estilista Zuzu Angel -morta em 76 num acidente automobilístico suspeito de ter sido provocado por agentes repressivos, quando investigava o assassinato do filho, um ativista contra o regime.
O carnavalesco diz que desde 98 desejava fazer um enredo sobre o período militar e aproveitou o fato de, este ano, todas as escolas usarem temas relativos aos 500 anos do Brasil.


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