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PASQUALE CIPRO NETO
"Homenagens literomusicais"
Escreve o leitor Pedro Pereira: "Embora tenha encontrado nos dicionários as palavras
"literomania", "literomaníaco" e
"literofobia", nos léxicos não achei
a palavra "litero", utilizada no seu
artigo publicado dia 25 de janeiro
deste ano. Não será mais apropriado escrever "homenagens literárias e musicais'? De resto, o que
vêm a ser "homenagens lítero-musicais" ou "homenagens literárias e
musicais'?" Atenciosamente".
O leitor se refere a um texto em
que mencionei "as várias homenagens lítero-musicais" de que a
cidade de São Paulo já foi alvo.
É preciso começar com uma retificação gráfica: o adjetivo se
grafa "literomusicais", sem hífen
e, consequentemente, sem acento,
e não como saiu naquela coluna
("lítero-musicais").
É normal, caro Pedro, que alguns adjetivos apresentem forma
reduzida, que se usa exclusivamente para sua inclusão em adjetivos compostos. "Agrário", por
exemplo, é substituído por "agro",
como se vê em "técnicas agropecuárias" ou em "política agroindustrial". "Sucro", que vem do
francês "sucre", também só se usa
em compostos, como "sucroalcooleiro" e "sucroquímica".
Os adjetivos pátrios talvez sejam os maiores representantes
desse tipo de ocorrência. "Francês" passa a "franco" ("filme franco-espanhol"); "austríaco" passa
a "austro" ("Império Austro-Húngaro"); "italiano" passa a
"ítalo" ("proposta ítalo-brasileira"); "chinês" passa a "sino"
("conflitos sino-soviéticos") etc.
Esses adjetivos pátrios compostos são grafados com hífen. Com
os demais, é preciso cuidado, já
que não se pode afirmar que haja
padrão rigoroso. "O Vocabulário
Ortográfico", editado em 1998 pela Academia Brasileira de Letras,
registra "literocientífico", de que
dá a variante "literário-científico". Registra também "literomusical", sem variante. O "Aurélio"
só registra esse termo na última
edição ("Novo Aurélio Século
XXI") e dá esta definição: "1. Relativo à literatura e à música. 2.
Que participa da natureza de
uma e da outra".
Como se vê, caro Pedro, as homenagens literomusicais podem
receber esse nome por duas razões: ou porque se dão na música
e na literatura ou porque se dão
em algo que funda as duas manifestações artísticas.
Outro leitor escreve para apontar erro meu nesta construção:
"...que, por motivos óbvios, escreve-se...". Pouparei o leitor (não o
que escreveu, mas o que lê esta coluna) das grosserias do missivista.
Diz o mal-educado: "Se fosse..., o
sr. Pasquale saberia que o pronome relativo "que" atrai o pronome átono (clítico)".
Traduzo: o cidadão quer dizer
que errei ao colocar o "se" depois
de "escreve"; deveria ter escrito
"se escreve", para satisfazer a
atração exercida pelo "que".
Fora menos grosseiro e mais estudioso, o missivista conheceria
esta observação de Celso Cunha e
Lindley Cintra: "Observe-se por
fim que, sempre que houver pausa entre um elemento capaz de
provocar a próclise e o verbo, pode ocorrer a ênclise". Segue-se um
exemplo, de Ferreira de Castro.
No meu texto, a pausa é marcada pela vírgula, que encerra o isolamento da expressão adverbial
"por motivos óbvios".
Que Deus o ilumine, senhor J. A.
Carvalho. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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