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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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CAOS NO RIO

Traficantes promoveram assaltos e tiroteios em duas das principais vias da cidade; segundo-tenente da Marinha foi morto ao reagir

Morre terceira vítima de onda de atentados

Sergio Moraes/Reuters
Em ônibus, moradores do morro da Lagartixa que seguiam para o enterro de Auri Maria do Canto observam policial


TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A onda de violência promovida por traficantes, que atinge o Rio desde segunda-feira, fez a terceira vítima fatal e provocou pânico na avenida Brasil, uma das principais vias de acesso à cidade, no início da madrugada de ontem.
O segundo-tenente da Marinha Érico Valle Petzold, 33, morreu atingido por três tiros ao reagir a um assalto na avenida Brasil, quando estava preso em um engarrafamento provocado pela queima de um ônibus.
Um ônibus interestadual, que ia para São Paulo, também foi atacado a tiros. Ninguém ficou ferido, mas os 27 passageiros foram roubados e tiveram de se jogar no chão para não ser atingidos por tiros de fuzis. A via expressa ficou uma hora fechada.
Ontem pela manhã, policiais militares recolheram uma faixa estendida em uma passarela da avenida onde se lia "Direitos Humanos para Bangu 1, senão a guerra vai continuar". A faixa estava assinada com a sigla PJL (Paz, Justiça, Liberdade), lema da facção criminosa Comando Vermelho no início dos anos 80, logo depois de sua criação.
Os conflitos da madrugada começaram com uma troca de tiros entre policiais e traficantes, na Linha Amarela, que liga as zonas norte e oeste do Rio e cruza a avenida Brasil na altura do complexo de favelas da Maré.
Os criminosos seguiram para a avenida Brasil, onde, por volta de 1h, incendiaram um ônibus perto da Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos (zona norte do Rio). Um engarrafamento se formou e os traficantes, então, promoveram um arrastão (sequência de assaltos). Carros voltaram pela contramão e motoristas chegaram a deixar seus carros para correr em busca de abrigo.
O segundo-tenente Petzold estava em seu Palio com a irmã, Ana Valle Petzold, 21, e um casal de amigos, Euclides Pereira Alves Júnior, 27, e Aline de Carvalho Pereira, 20. De acordo com o depoimento de Alves Júnior, dois criminosos armados abordaram o veículo e fizeram com que Petzold saísse do carro.
Quando o tenente reagiu, os três acompanhantes fugiram a pé. Alves Júnior contou que ouviu os disparos e pediu ajuda a PMs, que encontraram Petzold morto.
O motorista Antônio Carlos Pinto, 35, que também foi assaltado, disse ter testemunhado o ataque ao ônibus que ia para São Paulo. O veículo foi atingido por tiros de fuzil, que deixaram marcas nas janelas de vidro e nas poltronas. Dois coquetéis Molotov foram lançados em direção ao ônibus, mas não houve incêndio.
Fernando Ferreira, um dos 27 passageiros, contou, em entrevista à TV, que muitos tentaram sair do ônibus pelas janelas quando as bombas caseiras foram lançadas.
"Nesse momento começaram os tiros. Então, nos agachamos e rezamos para que nenhuma outra bomba fosse lançada. Havia, realmente, uma sensação de pânico muito grande. O volume de rajadas foi muito intenso", disse. Os passageiros seguiram para São Paulo em outro veículo.
Ontem de manhã, ao providenciar a liberação do corpo do marido no IML (Instituto Médico Legal), a mulher do segundo-tenente morto, Vilma Petzold, encontrou-se com Rosângela Cavalcante Araújo, 45, que esperava a liberação do corpo de sua mãe, Aury Maria do Canto, 70 -que morreu anteontem em razão das queimaduras que sofreu quando o ônibus em que viajava foi atacado por traficantes em Botafogo (zona sul), na segunda-feira.
A primeira vítima da onda de violência foi o taxista Sílvio Manuel Fernandes, 73, morto com um tiro na cabeça ao furar um bloqueio de traficantes em Benfica (zona norte), na segunda feira.
Anteontem à noite, duas pessoas ficaram feridas num tiroteio envolvendo policiais e traficantes do morro do Vidigal, em São Conrado. Josefa Severino da Silva, moradora da favela, foi atingida por uma bala perdida e está internada. O soldado Robson Pires Viana também foi baleado.


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