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OPORTUNISMO
Dos 13 estreantes ontem, 12 tinham feições de políticos e foram encomendados pelos próprios
Propaganda política
ameaça encontro de
bonecos em Olinda
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OLINDA
O oportunismo político ameaça descaracterizar um dos eventos mais bonitos e mais concorridos do Carnaval de Pernambuco -o encontro dos bonecos
gigantes de Olinda, na Grande
Recife.
No desfile de ontem, dos 13
bonecos estreantes, 12 tinham as
feições de políticos do Estado de
Pernambuco e foram encomendados justamente por eles. Alguns ainda traziam seus nomes
ou cargos nas costas, ao lado da
inscrição "2006". "Está estranho", afirmou o organizador do
evento, o artista plástico Silvio
Botelho. Criador da maior parte
dos personagens gigantes, Botelho disse que teme pelo futuro
do encontro de bonecos. "Tenho medo do que estou vendo
[durante o evento]", declarou.
Surgido no Estado de Pernambuco em 1919, inspirado em figuras presentes nas festas religiosas européias da Idade Média, o boneco gigante sempre se
caracterizou, na cidade de Olinda, por homenagear personalidades conhecidas na região, como o músico Luiz Gonzaga ou o
garçom Batata, criador do Bacalhau do Batata.
Nos últimos anos, entretanto,
os políticos também começaram a ser lembrados nas figuras
dos bonecos gigantes.
Botelho afirmou que o desfile
do próximo ano será repensado
para tentar conter essa tendência. De acordo com ele, em um
primeiro momento, a idéia em
análise é criar temas diferentes
para a festa a cada ano.
O artista afirma que esse tipo
de restrição -dos temas específicos para cada ano da festa- é
o máximo que pode fazer para
tentar manter o "espírito" do
encontro carnavalesco. "Recusar as encomendas eu não posso. É o meu trabalho, vivo disso", afirmou.
Apenas de políticos -inclusive alguns de outros Estados-,
Botelho conta ter cerca de 50 solicitações. Cada boneco gigante
custa pelo menos R$ 2.000. Eles
medem três metros e pesam 15
quilos, segundo ele.
Em sua 19ª edição, o encontro
de ontem reuniu cem personagens, entre eles a Menina da Tarde e o Homem da Meia-Noite,
primeiro boneco gigante a desfilar em Olinda, em 1932.
Acompanhados por três orquestras de frevo, os personagens percorreram cerca de dois
quilômetros nas ruas do centro
histórico. No caminho, fizeram
reverências e dançaram para o
público, que retribuiu com
aplausos.
Durante o cortejo, que durou
cerca de duas horas, o grupo se
encontrou involuntariamente
com outras agremiações, o que
deixou mais congestionadas
ainda as já lotadas ladeiras da cidade de Olinda.
Aproveitando a festa, bonecos
de foliões independentes, um
pouco menores, se misturaram
aos integrantes do desfile oficial,
principalmente na apoteose, em
frente à prefeitura. Entre os "invasores" havia um, caracterizado como presidente Lula, fazendo referências ao mensalão.
Hoje é dia do Batata
Hoje, Quarta-Feira de Cinzas,
a folia ainda continua em Olinda, com o desfile do Bacalhau do
Batata, bloco criado há 44 anos
pelo garçom Isaías Ferreira da
Silva, o Batata, morto em 1993.
Batata fundou a agremiação
para permitir que as pessoas que
trabalharam durante a folia se
divertissem por um dia.
O sucesso foi tão grande que o
desfile foi incorporado ao calendário oficial do Carnaval pernambucano.
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