São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2006

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OPORTUNISMO

Dos 13 estreantes ontem, 12 tinham feições de políticos e foram encomendados pelos próprios

Propaganda política ameaça encontro de bonecos em Olinda

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OLINDA

O oportunismo político ameaça descaracterizar um dos eventos mais bonitos e mais concorridos do Carnaval de Pernambuco -o encontro dos bonecos gigantes de Olinda, na Grande Recife.
No desfile de ontem, dos 13 bonecos estreantes, 12 tinham as feições de políticos do Estado de Pernambuco e foram encomendados justamente por eles. Alguns ainda traziam seus nomes ou cargos nas costas, ao lado da inscrição "2006". "Está estranho", afirmou o organizador do evento, o artista plástico Silvio Botelho. Criador da maior parte dos personagens gigantes, Botelho disse que teme pelo futuro do encontro de bonecos. "Tenho medo do que estou vendo [durante o evento]", declarou.
Surgido no Estado de Pernambuco em 1919, inspirado em figuras presentes nas festas religiosas européias da Idade Média, o boneco gigante sempre se caracterizou, na cidade de Olinda, por homenagear personalidades conhecidas na região, como o músico Luiz Gonzaga ou o garçom Batata, criador do Bacalhau do Batata.
Nos últimos anos, entretanto, os políticos também começaram a ser lembrados nas figuras dos bonecos gigantes.
Botelho afirmou que o desfile do próximo ano será repensado para tentar conter essa tendência. De acordo com ele, em um primeiro momento, a idéia em análise é criar temas diferentes para a festa a cada ano.
O artista afirma que esse tipo de restrição -dos temas específicos para cada ano da festa- é o máximo que pode fazer para tentar manter o "espírito" do encontro carnavalesco. "Recusar as encomendas eu não posso. É o meu trabalho, vivo disso", afirmou.
Apenas de políticos -inclusive alguns de outros Estados-, Botelho conta ter cerca de 50 solicitações. Cada boneco gigante custa pelo menos R$ 2.000. Eles medem três metros e pesam 15 quilos, segundo ele.
Em sua 19ª edição, o encontro de ontem reuniu cem personagens, entre eles a Menina da Tarde e o Homem da Meia-Noite, primeiro boneco gigante a desfilar em Olinda, em 1932.
Acompanhados por três orquestras de frevo, os personagens percorreram cerca de dois quilômetros nas ruas do centro histórico. No caminho, fizeram reverências e dançaram para o público, que retribuiu com aplausos.
Durante o cortejo, que durou cerca de duas horas, o grupo se encontrou involuntariamente com outras agremiações, o que deixou mais congestionadas ainda as já lotadas ladeiras da cidade de Olinda.
Aproveitando a festa, bonecos de foliões independentes, um pouco menores, se misturaram aos integrantes do desfile oficial, principalmente na apoteose, em frente à prefeitura. Entre os "invasores" havia um, caracterizado como presidente Lula, fazendo referências ao mensalão.

Hoje é dia do Batata
Hoje, Quarta-Feira de Cinzas, a folia ainda continua em Olinda, com o desfile do Bacalhau do Batata, bloco criado há 44 anos pelo garçom Isaías Ferreira da Silva, o Batata, morto em 1993.
Batata fundou a agremiação para permitir que as pessoas que trabalharam durante a folia se divertissem por um dia.
O sucesso foi tão grande que o desfile foi incorporado ao calendário oficial do Carnaval pernambucano.


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