São Paulo, segunda, 1 de março de 1999

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Escritor teme revisionismo

da Sucursal de Brasília

O jornalista Eduardo Bueno -autor do best seller "A Viagem do Descobrimento", da Editora Objetiva- vê com cautela a iniciativa das escolas de Brasília de trocar a palavra descobrimento por invasão ou tomada de posse.
"Entendo e concordo com os motivos das escolas. É claro que o que houve foi uma invasão, uma conquista. Mas tenho medo de que seja deflagrada no Brasil uma onda de revisionismo histórico como aconteceu durante a comemoração dos 500 anos do descobrimento da América, em 1992. É desse ranço do politicamente correto que eu discordo", afirma.
Em seu livro, Bueno troca a palavra descobrimento por achamento, mas explica que a escolha foi casual.
Embora defenda as mesmas teses dos professores brasilienses (de que Cabral não foi o primeiro europeu a chegar ao Brasil e de que o desvio para o oeste foi proposital), Bueno prefere continuar usando os termos tradicionais.
"Não quis entrar nessa polêmica. Estava mais interessado em dar ênfase à aventura que foi a chegada dos primeiros europeus ao Brasil do que em dar início a uma revisão historiográfica."
O escritor -que está finalizando o terceiro volume da coleção "Terra Brasilis"- explica que é contra a revisão historiográfica porque não quer que aconteça com a comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil o mesmo que ocorreu durante as celebrações dos 500 anos da América.
"Alguns autores americanos chegaram a boicotar as comemorações, dizendo que uma invasão não deve ser festejada. Mas temos de admitir que estamos contando uma história escrita pelos vencedores. O Brasil e a América são resultados desse jogo de trocas mercantis."
Para Bueno, não há problema em manter a nomenclatura tradicional desde que, no subtexto, fique claro para o leitor o que de fato ocorreu.
"Escrevi no livro que o achamento do Brasil tem de ser visto pela perspectiva da proa (dos europeus) e da praia (dos índios). Para a proa foi descobrimento. Para a praia, invasão." (DF)



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