São Paulo, segunda, 1 de março de 1999

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MUTILAÇÃO
Casos surgidos na sexta, ligados a uma seita, podem ter relação com ocorrências parecidas em São Luís
Polícia investiga outras castrações no MA

PAULO MOTA
da Agência Folha, em São Luís

A Polícia Civil do Maranhão está investigando a participação de integrantes da seita Mundial ( Moderna Unidade Normativa de Desenvolvimento da América Latina) no assassinato e castração de mais três adolescentes de São Luís.
Os crimes teriam ocorrido em 1992, na Vila São José, e até hoje os autores não foram identificados.
O delegado Marcos Quezado, diretor do Centro de Inteligência de Segurança Pública do Maranhão, disse que já tem elementos para ligar o caso da Vila São José com integrantes da seita Mundial, mas prefere não revelá-los para não atrapalhar as investigações.
Na última sexta-feira, a polícia prendeu o estudante universitário Donato Brandão, 28, considerado o líder da seita.
Estudante de letras, teologia e psicologia, Brandão é acusado de mandar castrar José Ribamar Souza Cidreira, Rejânio de Jesus Morais e o adolescente I.R.J.B.C., 17, todos membros da seita Mundial.
Ele nega que tenha ligação com as castrações e alega que criava o adolescente como se fosse seu filho. Mas membros da seita contaram com detalhes como Brandão teria tramado a castração dos três, ocorrida no dia 5 passado, na praia de Araçagy, em São Luís.
A castração foi feita com uma faca serrilhada por três homens que simularam um assalto.
Joaquim Nabuco Cunha Mouzado, considerado a segunda pessoa na hierarquia da seita, disse à Agência Folha que Brandão justificou a castração dizendo que essa era a forma de purificá-los.
"Ele disse que todos os anjos eram castos e que eles deviam seguir o mesmo caminho", disse.
Mouzado admitiu ainda ter ajudado Brandão a contratar os três homens que fingiram assaltar os três seguidores da seita castrados. Ainda de acordo com o integrante da seita, Cidreira e Morais sabiam que iam ser castrados durante a simulação do assalto.
Em depoimento à polícia, Morais confirmou a versão de Mouzado, mas Cidreira preferiu ficar calado. O delegado Quezado diz que a polícia trabalha com a hipótese de que Brandão mandou castrar I.R.J.B.C. motivado por ciúmes.
O jovem havia fugido de casa em dezembro e Brandão teria prometido livrá-lo definitivamente da tentação de procurar mulheres.
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Castração voluntária A participação de Morais e Cidreira teria sido voluntária, segundo a polícia.
Em depoimento ao delegado, ambos disseram que acreditavam estar purificando seus corpos e que não se arrependiam de terem entrado na seita Mundial.
Na casa que servia de sede para a seita, a polícia encontrou e apreendeu um aparelho que serve para ampliar o volume de um pênis e comprimidos de ecstasy (droga que provoca sensação de euforia).



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