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LENDA URBANA
Boato sobre crime assusta pais no Rio
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A história é absurda. Inverossímil. Mas está levando pais da região metropolitana do Rio a um
clima de paranóia urbana. Criminosos dirigindo uma Kombi estariam seqüestrando crianças para
retirar seus órgãos e vendê-los. Os
corpos seriam devolvidos aos pais
com um bilhete dizendo "mãe,
seu filho não sofreu", junto com
algum dinheiro para ajudar nas
despesas do enterro.
A Polícia Civil negou o desaparecimento de crianças nessas circunstâncias. Segundo o Instituto
Médico Legal, não há registro de
corpos nessas condições.
"É uma paranóia. Mesmo pais
mais esclarecidos estão acreditando nisso e levando seus filhos à escola. Tivemos que avisar a todas
as diretoras da rede que tudo não
passava de um boato absurdo",
diz a secretária de Educação de
Nilópolis (Baixada Fluminense),
Eva Maria Melo Vasconcelos.
Os boatos variam de bairro para
bairro, mas seguem o mesmo roteiro: um grupo numa Kombi que
seqüestra as crianças a caminho
da escola. Há até quem garanta
conhecer alguém que já viu crianças mortas com os corpos cortados. Os casos, no entanto, nunca
são registrados nas delegacias, e
nenhuma família reclama do desaparecimento de crianças.
Em Nova Iguaçu, na Baixada,
pais de um conjunto habitacional
pediram ajuda a traficantes, que
estão escoltando as crianças até a
escola e jurando de morte os tais
criminosos da Kombi. "Aqui tá
todo mundo com medo, mas eles
[os traficantes] vigiam na porta
da escola", diz uma moradora.
No Cachambi (zona norte), foram afixados cartazes sem assinatura em postes alertando sobre o
"sumiço de várias crianças". Ontem de manhã, na entrada de uma
escola municipal do bairro, a
maioria dos pais ouvidos pela Folha disse acreditar na história.
"Não é boato, não. Estão chamando isso de lenda urbana, mas
uma vizinha minha viu os corpos
de duas crianças. O caso só não virou notícia porque eram filhos de
pobre", diz Rejane Souza, 28. Na
dúvida, Darlene Silva, 34, redobrou a atenção com o filho. "Sempre o levei para a escola, mas ele
voltava sozinho. Pedi a meu marido que o pegasse na saída."
A origem do boato ainda é desconhecida. Uma hipótese é que
motoristas de vans espalharam a
notícia para prejudicar Kombis
que fazem transporte escolar.
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