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Delegado-modelo é acusado de corrupção
Justiça federal abre processo contra 52 pessoas, entre elas três delegados de SP, sob acusação de explorar jogo ilegal
Um dos policiais suspeitos
foi citado como "exemplo de
administração" no site da
Polícia Civil; grupo agiria nas
regiões de Bauru e Jaú
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça federal transformou ontem em réus três delegados da Polícia Civil paulista,
que são acusados de envolvimento com quadrilhas ligadas à
exploração ilegal de máquinas
caça-níqueis em mais de duas
dezenas de cidades nas regiões
de Bauru e Jaú (interior de SP).
Um desses delegados já tinha
sido citado como "exemplo" da
corporação em texto publicado
no site da polícia.
Ao todo, 52 pessoas responderão processo sob acusação de
explorar jogo ilegal. Dessas, 33
tiveram prisão preventiva (que
pode durar até o julgamento)
decretada pelo juiz federal Rodrigo Zacharias, de Jaú.
Ontem, 26 pessoas foram
presas por equipes do Gaeco
(Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado
de Bauru, órgão do Ministério
Público Estadual), do Ministério Público Federal e da PF em
Rio Claro, Bauru e Jaú.
Dois escritórios de advocacia, em Jaú e em Rio Claro, foram vasculhados. Três advogados são acusados de participar
do esquema e são réus. "Eles
são parte do esquema criminoso", disse Marcos Salati, procurador da República.
Dos 26 presos ontem, oito
são policiais -sete são da Polícia Civil e um é PM. Três delegados com postos de chefia na
Polícia Civil também são réus
no processo, mas não tiveram a
prisão decretada.
Nenhum dos 52 réus teve o
nome revelado. A Folha apurou que um dos delegados é
Antonio Carlos Piccino Filho,
delegado seccional de Jaú de
2005 até ontem, quando foi
afastado por ordem judicial.
Como seccional de Jaú, Piccino Filho chefiou a Polícia Civil em dez municípios vizinhos.
Um texto no site da polícia sobre o delegado teve o título
"Seccional de Jaú é um exemplo de administração".
Investigações
Segundo as investigações iniciadas há um ano, os policiais
recebiam propina de contrabandistas de peças usadas na
montagem dos caça-níqueis e
davam proteção a quem as distribuía para que não fossem
apreendidas durante as blitze.
De acordo com o promotor
Rafael Abujamra, do Gaeco de
Bauru, escutas apontam que os
policiais alertavam donos de
caça-níqueis sobre possíveis
ações de outras forças de segurança, como a PM e a PF.
Os 52 réus estão divididos em
quatro quadrilhas que recorriam aos policiais para receber
proteção, disse o promotor.
"Esses policiais formaram uma
rede de proteção para ajudar
quem os pagava. Aqueles que se
recusavam a pagar propina sofriam ações desses mesmos policiais como forma de pressão."
Outro delegado acusado é
Roberto de Mello Anibal, ex-diretor do Deinter-4 (Departamento de Polícia Judiciária do
Interior) de Bauru.
O Ministério Público Federal
pediu a decretação das prisões
de Anibal e Piccino Filho, mas o
juiz Zacharias não concedeu. O
terceiro delegado acusado é
Luiz Fernando Gonçalves Fraga. Ele atua hoje em Rio Claro.
Os três delegados tiveram os
sigilos bancários e fiscais quebrados pela Justiça federal.
Os 52 réus respondem a processo por formação de quadrilha, corrupção e facilitação de
contrabando. Os 11 policiais
também são acusados de prevaricação (quando o funcionário
público retarda ou deixa de
cumprir seus deveres).
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