São Paulo, quinta, 1 de maio de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Troca de experiências pretende melhorar qualidade de vida de pacientes no mundo todo
Rede interliga mulheres com Aids

da Reportagem Local

Mulheres do mundo todo, vivendo com Aids ou HIV, estão procurando se unir para trocar ajuda, informação e conforto.
``A troca de experiência vem encorajando as mulheres e melhorando sua qualidade de vida'', diz a professora e pedagoga Nair Brito, 35, portadora do HIV e coordenadora da Rede Paulista de Mulheres-GIV, que reúne 250 soropositivas.
Nair é também a representante das mulheres com HIV e Aids na América Latina e Caribe dentro da rede mundial de soropositivas, com sede em Londres.
``No Brasil, o quadro é de abandono e de sofrimento'', diz Nair. Quando a vítima é mulher, todos os estigmas, preconceitos e angústias que recaem sobre um paciente de Aids se tornam mais dramáticos, afirma.
Nair viaja com frequência pelo interior do Estado, fazendo reuniões e tentando criar grupos locais. ``Quando o teste da mulher dá positivo, os próprios profissionais de saúde acabam espalhando a notícia'', diz. ``Ela perde o emprego e os filho passam a ser discriminados.''
Um dos trabalhos da rede é tentar garantir o sigilo no resultado dos exames. As mulheres são incentivadas a fazer o teste em outra cidade que não a sua.
Por ter empregos irregulares, a mulher não conta com auxílio-doença nem seguro-saúde. Com a doença do marido, não terá a quem recorrer. ``Os filhos vão para os avós, que também não têm como mantê-los.''
Muitas das mulheres estão com seus maridos presos e doentes em cadeias longe de suas cidades.
``Em Penápolis, uma mãe doente, com cinco filhos, está com o marido preso na Detenção em São Paulo.''
A mulher também carrega um grande sentimento de culpa por causa dos filhos. Muitas crianças deixam a escola por causa do preconceito. ``Adolescentes fogem de suas casas para escapar do estigma da doença.''
Segundo Nair, por agregar a família, todos os laços se desmoronam quando a mulher cai doente ou morre. Enquanto tem saúde, é ela que toca a casa, cuida do marido doente e se ocupa das crianças pequenas.
Apesar da dramaticidade da situação, o Estado quase nada está fazendo para ajudar as mulheres com Aids, diz Nair. A inoperância dos governos é um dos temas do encontro sobre ``mulheres vivendo com Aids'' que começa hoje em Bogotá e do qual Nair está participando.
(AURELIANO BIANCARELLI)


GIV - Tel.: (011) 5084-0255

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã