São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Por meio de e-mail, representante de agência discute com Luís Favre estratégia para defesa de gastos com educação

Namorado de Marta cuida de publicidade

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de não ter cargo na Prefeitura de São Paulo, o namorado da prefeita Marta Suplicy, Luís Favre, articula e intermedeia discussões entre a administração e a agência de publicidade que trabalha para a gestão petista, revela documento obtido pela Folha.
O documento é a cópia de um e-mail enviado ontem por Celso Marcondes, da agência de publicidade Agnelo Pacheco, ao endereço pessoal de Luís Favre. "Marta, (via Luís)", diz o texto.
O secretário interino de Comunicação, Luiz Barreto, não quis comentar ontem à noite a interferência de Favre em decisões da prefeitura nem o teor do e-mail a que a reportagem teve acesso.
Na correspondência, Luís Favre, que também trabalha com publicidade, e a prefeita são informados sobre os passos de um plano publicitário arquitetado entre o gabinete de Marta e a agência para o que Marcondes chama de "guerra da educação".
Trata-se de uma estratégia de marketing contra a crise provocada pela aprovação, no ano passado, de projeto da administração que incluiu novos gastos na verba obrigatória da educação.
Essa questão já envolveu a expulsão do vereador Carlos Giannazi do partido e levou ontem caciques do PT à prefeitura. O objetivo foi declarar apoio ao projeto e viabilizar no PT a reversão da expulsão do parlamentar.
A decisão de expulsar Giannazi foi tomada pelo Diretório Municipal do PT e deverá ser mudada na próxima semana pela esfera estadual do partido.
No e-mail de Marcondes, a declaração de apoio a Marta feita ontem por petistas é tratada como um "belo gol". "Avançamos na guerra da educação", afirma o publicitário no começo do texto.
"Mas como Giannazi volta à cena hoje [ontem" e amanhã seria bom que acelerássemos hoje os itens 4, 5 e 6", diz ele em referência a uma lista com dez itens contida no e-mail enviado a Favre.
Na ordem, os itens citam que a estratégia inclui "cavar artigos assinados" [pró-Marta, em jornais", "café da manhã de Eny [Maia, secretária da Educação" com editores [da imprensa" na área" e "visita de Eny às redações".
Ele menciona, também, "folheto do PT", "folheto da PMSP" (prefeitura), "campanha publicitária" e "agenda de Marta privilegiando a área" de educação. A mesma prioridade deveria, segundo o e-mail, ser adotada por secretarias ligadas à área.
Nos últimos três itens, o texto revela que a administração discute a elaboração de "vídeo para distribuir para o PT em todo o Brasil, mostrando realizações e focando na educação". O e-mail chega a revelar que o roteiro do vídeo já foi apresentado e aprovado pelo secretário Valdemir Garreta (Comunicação).
A estratégia inclui também "comercial de 30" [segundos] do PT, com Marta falando sobre o tema, para entrar no horário do TRE [Tribunal Regional Eleitoral]". "...temos direito a 14 inserções na Grande SP a partir do dia 15", diz o publicitário no e-mail.
Em sua mensagem, ele também faz crítica à administração, que não teria mencionado programas sociais de Marta em cartas enviadas a jornais, contestando reportagens sobre a lei da educação proposta pela prefeita.
Marcondes sugere que, quando o tema for abordado por "integrantes do Executivo", em "primeiro lugar" devem ser mencionados os números de beneficiados pelo programa Renda Mínima, que passou a ser considerado como gasto de educação.
Ele até insiste que o programa mude de nome para passar a ser chamado de "Criança na Escola".
Procurado pela Folha, o secretário Márcio Pochman (Trabalho), responsável pelos programas sociais da prefeitura, disse ontem não saber da intenção da administração de mudar o Renda Mínima de nome.

Outro lado
"Não vou me pronunciar sobre uma coisa que não conheço e não li", disse ontem o secretário interino de Comunicação, Luiz Barreto, sobre o e-mail.
Mesmo depois de ser informado sobre o conteúdo do documento, o secretário interino disse ontem que não comentaria a questão. Ele apenas afirmou que, desde a campanha, é comum a prefeita receber e-mails em casa.
A Folha também procurou ontem a agência Agnelo Pacheco, mas nenhum representante da empresa foi encontrado.



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