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ADMINISTRAÇÃO
Por meio de e-mail, representante de agência discute com Luís Favre estratégia para defesa de gastos com educação
Namorado de Marta cuida de publicidade
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de não ter cargo na Prefeitura de São Paulo, o namorado
da prefeita Marta Suplicy, Luís Favre, articula e intermedeia discussões entre a administração e a
agência de publicidade que trabalha para a gestão petista, revela
documento obtido pela Folha.
O documento é a cópia de um e-mail enviado ontem por Celso
Marcondes, da agência de publicidade Agnelo Pacheco, ao endereço pessoal de Luís Favre. "Marta, (via Luís)", diz o texto.
O secretário interino de Comunicação, Luiz Barreto, não quis
comentar ontem à noite a interferência de Favre em decisões da
prefeitura nem o teor do e-mail a
que a reportagem teve acesso.
Na correspondência, Luís Favre, que também trabalha com
publicidade, e a prefeita são informados sobre os passos de um plano publicitário arquitetado entre
o gabinete de Marta e a agência
para o que Marcondes chama de
"guerra da educação".
Trata-se de uma estratégia de
marketing contra a crise provocada pela aprovação, no ano passado, de projeto da administração
que incluiu novos gastos na verba
obrigatória da educação.
Essa questão já envolveu a expulsão do vereador Carlos Giannazi do partido e levou ontem caciques do PT à prefeitura. O objetivo foi declarar apoio ao projeto e
viabilizar no PT a reversão da expulsão do parlamentar.
A decisão de expulsar Giannazi
foi tomada pelo Diretório Municipal do PT e deverá ser mudada
na próxima semana pela esfera
estadual do partido.
No e-mail de Marcondes, a declaração de apoio a Marta feita
ontem por petistas é tratada como
um "belo gol". "Avançamos na
guerra da educação", afirma o publicitário no começo do texto.
"Mas como Giannazi volta à cena hoje [ontem" e amanhã seria
bom que acelerássemos hoje os
itens 4, 5 e 6", diz ele em referência
a uma lista com dez itens contida
no e-mail enviado a Favre.
Na ordem, os itens citam que a
estratégia inclui "cavar artigos assinados" [pró-Marta, em jornais",
"café da manhã de Eny [Maia, secretária da Educação" com editores [da imprensa" na área" e "visita de Eny às redações".
Ele menciona, também, "folheto do PT", "folheto da PMSP"
(prefeitura), "campanha publicitária" e "agenda de Marta privilegiando a área" de educação. A
mesma prioridade deveria, segundo o e-mail, ser adotada por
secretarias ligadas à área.
Nos últimos três itens, o texto
revela que a administração discute a elaboração de "vídeo para distribuir para o PT em todo o Brasil,
mostrando realizações e focando
na educação". O e-mail chega a
revelar que o roteiro do vídeo já
foi apresentado e aprovado pelo
secretário Valdemir Garreta (Comunicação).
A estratégia inclui também "comercial de 30" [segundos] do PT,
com Marta falando sobre o tema,
para entrar no horário do TRE
[Tribunal Regional Eleitoral]".
"...temos direito a 14 inserções na
Grande SP a partir do dia 15", diz
o publicitário no e-mail.
Em sua mensagem, ele também
faz crítica à administração, que
não teria mencionado programas
sociais de Marta em cartas enviadas a jornais, contestando reportagens sobre a lei da educação
proposta pela prefeita.
Marcondes sugere que, quando
o tema for abordado por "integrantes do Executivo", em "primeiro lugar" devem ser mencionados os números de beneficiados pelo programa Renda Mínima, que passou a ser considerado
como gasto de educação.
Ele até insiste que o programa
mude de nome para passar a ser
chamado de "Criança na Escola".
Procurado pela Folha, o secretário Márcio Pochman (Trabalho), responsável pelos programas sociais da prefeitura, disse
ontem não saber da intenção da
administração de mudar o Renda
Mínima de nome.
Outro lado
"Não vou me pronunciar sobre
uma coisa que não conheço e não
li", disse ontem o secretário interino de Comunicação, Luiz Barreto, sobre o e-mail.
Mesmo depois de ser informado sobre o conteúdo do documento, o secretário interino disse
ontem que não comentaria a
questão. Ele apenas afirmou que,
desde a campanha, é comum a
prefeita receber e-mails em casa.
A Folha também procurou ontem a agência Agnelo Pacheco,
mas nenhum representante da
empresa foi encontrado.
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