|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Questão não pode ser enfrentada com receita única
RODRIGO GHIRINGHELLI DE
AZEVEDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de uma década de
queda consistente nas taxas de
homicídio na cidade de São
Paulo, dados da Secretaria da
Segurança Pública relativos ao
primeiro trimestre de 2010 dão
conta de uma reversão dessa
tendência, apontando para um
crescimento nas taxas de homicídios ocorridos na capital em
relação ao ano anterior.
A queda dos homicídios em
São Paulo na última década,
tanto na capital quanto no interior, tem sido objeto de debate
entre os estudiosos da área. O
debate, no entanto, tem sido
marcado muitas vezes pela reafirmação de posições com um
forte conteúdo ideológico.
É o que se percebe quando se
afirma que a queda nas taxas de
homicídio seria fruto, pura e
simplesmente, de uma política
de endurecimento contra o crime, responsável pelo crescimento concomitante das taxas
de encarceramento em São
Paulo, hoje próximas de 500
presos por 100 mil habitantes.
O que a reversão da tendência verificada no último trimestre pode indicar é que a dinâmica social em torno da qual a violência letal se verifica não pode
ser enfrentada com uma única
receita, e as políticas públicas
de segurança devem ser pensadas e implementadas levando
em conta as diferentes dimensões do fenômeno.
Se as taxas de homicídio no
Brasil estão ligadas à disputa de
território e ao acerto de contas
em torno do mercado da droga,
a forma como os diversos grupos se organizam e a maior ou
menor estabilidade do mercado vão implicar alterações nas
estatísticas da violência.
A repressão policial em determinada área, contra determinado grupo, pode deflagrar
disputas entre facções que até
então estavam em equilíbrio,
afetando as taxas de homicídio.
Por outro lado, a violência
praticada em contextos de proximidade, como as relações domésticas ou de vizinhança, não
necessariamente será impactada pela ameaça da repressão
penal, exigindo políticas preventivas que permitam identificar e tratar o problema.
Na última década, importantes iniciativas voltadas para a
redução da violência em SP e
no Brasil foram tomadas.
A política de controle de armas, com base no Estatuto do
Desarmamento, a entrada em
cena dos municípios, com políticas preventivas e maior diálogo com a comunidade, a participação da sociedade civil na implementação de projetos de integração social da juventude, a
melhor preparação da polícia
para atuar em democracia e o
aperfeiçoamento dos mecanismos de investigação criminal
são exemplos variados.
Eles envolvem a atuação de
diferentes agentes, públicos e
privados, e devem ser considerados quando se procura entender o movimento das estatísticas da criminalidade.
RODRIGO GHIRINGHELLI DE AZEVEDO é professor de pós-graduação em ciências criminais e
em ciências sociais da PUC-RS.
Texto Anterior: Assassinatos avançam na Baixada Santista Próximo Texto: 40% dos jovens na antiga Febem não deveriam estar lá, diz governo Índice
|