São Paulo, Sábado, 01 de Maio de 1999
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Canhoto de cheque liga Garib a propina

OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local

A CPI da Câmara acredita ter achado o maior indício material da ligação do ex-vereador e atual deputado estadual Hanna Garib (suspenso pelo PPB) com a cobrança de propinas na Regional da Sé: um canhoto de cheque.
O canhoto estava entre os documentos apreendidos na madrugada de domingo passado no depósito do comerciante Nélson Augustatis, dono de 46 barracas de cachorro-quente e pastel na região central de São Paulo.
Na noite de anteontem, examinando os documentos, o vereador Dalton Silvano (PSDB), membro da CPI da máfia da propina, e o delegado Romeu Tuma Júnior, acharam o canhoto.
Datado de 17 de julho de 98, o canhoto de cheque apontava o valor de R$ 1.000 e tinha três anotações: AR-Sé, Eduardo e Garib.
Segundo Silvano, Eduardo é um fiscal da Sé que recebia a propina da Augustatis e entregava a Garib. "Ninguém em sã consciência vai colocar o nome de quem não conhece em um canhoto", afirmou Silvano. "Este é o maior indício material da participação do Garib no esquema de propinas da Sé."
Em depoimento à CPI, Augustatis declarou que pagava a fiscais da Sé R$ 2.000 por semana, em dois cheques, para poder montar suas barracas. O destinatário final do dinheiro, segundo ele, era Garib.
Extrato bancário de Augustatis mostra que este cheque foi descontado de sua conta. A CPI vai enviar o canhoto à Assembléia Legislativa, que deve pedir ao Banco Central para rastrear o cheque e descobrir quem o descontou.
O relatório final da CPI sobre a Sé deve ser apresentado ao plenário da Câmara na terça-feira. Amanhã, os cinco membros devem se reunir para discutir os detalhes finais do documento, que deve apontar Garib como o pivô do esquema de corrupção na regional.
"Há mais indícios contra o Garib do que havia contra o Viscome. O esquema na Sé tinha mais tentáculos, pois é uma regional mais rica, com mais camelôs e mais bancas irregulares", declarou Silvano.
Além do canhoto do cheque, outro indício material é uma agenda apreendida no depósito de Augustatis, com balanço de pagamentos de propinas e números de telefone, celular e bip de Garib. Depoimentos de camelôs e fiscais também apontam Garib como destinatário final do dinheiro arrecadado.
O presidente da CPI, José Eduardo Cardozo (PT), prorrogou até as 19h de terça-feira o prazo de defesa de Garib. Mas o advogado do deputado, Alberto Rollo, afirmou que só irá se defender na Assembléia, "que é o foro competente para julgá-lo".
O advogado também não quis fazer comentários sobre o canhoto que supostamente revelaria cheque destinado a Garib.


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