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VIOLÊNCIA
Aluno de 18 anos de escola de Guarulhos foi morto com 13 tiros por um colega porque interferiu num jogo de cartas
Estudante é assassinado na sala de aula
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
O estudante
Élcio Clêmio de
Souza, 18, morreu na noite de
anteontem,
após ter sido
atingido por 13
tiros dentro de
uma sala de aula na Escola Estadual de 1º e 2º Graus Bartolomeu
Carlos, no Jardim Leblon, em Guarulhos, Grande São Paulo. O autor
dos disparos, segundo a polícia e
testemunhas, foi um colega de
classe, Wellington Ferreira Mendes, 22, foragido até o final da tarde
de ontem.
A morte de Élcio se encaixa em
uma sequência de casos de estudantes mortos ou feridos nas redondezas de escolas públicas ou
dentro delas na região metropolitana de São Paulo, intensificada a
partir de março (veja quadro).
A morte de Élcio foi presenciada
por cerca de 35 estudantes e pelo
professor Edinal Silva Santana.
Wellington teria se irritado e disparado contra Élcio porque este
interferiu em um jogo de cartas,
que estava ocorrendo dentro da sala de aula por volta das 21h30. O diretor da escola, Aparecido Augusto Fernandes, disse que o crime foi
motivado por uma dívida de jogo
-Élcio estaria devendo R$ 10 para
Wellington.
"Era o início da aula de português. O professor-substituto começou a fazer a chamada quando
começou a confusão", conta a estudante Tatiana Santos Luz, 18,
que presenciou o crime.
A testemunha relatou que Élcio
disse para um colega chamado
João, que estava jogando com Wellington, interromper a partida para não perder todo o dinheiro. Wellington não gostou da intervenção
e disse para ele "não se meter",
conta Tatiana. Élcio respondeu
"Por que? Você vai me matar?", relata a jovem.
Depois disso, Wellington pegou
a arma com outro colega que também estava na classe, Ariefferson
Luiz Aguiar, 19, carregou-a e começou a disparar.
"Ele colocou as balas, apontou
para a gente e começou a atirar."
Assustados, os alunos correram e
se jogaram no chão. Wellington e
Ariefferson fugiram do local.
Depois do crime, o diretor trancou a escola e impediu a entrada de
pessoas que queriam socorrer o rapaz. "O menino ficou uns 20 minutos no chão. Ele só deixou a gente
tirar ele de lá e levá-lo para o hospital depois que disse que me responsabilizava", conta Maria Alves
dos Santos, 68, tia de Élcio, que
mora em frente à escola.
Anderson Ramos Santos, 17, que
acompanhou Élcio até o hospital,
conta que o diretor alegou que tinha de esperar a polícia chegar para liberar o rapaz.
O garoto morreu ao chegar no
hospital Alvorada e foi enterrado
no final da tarde de ontem no cemitério Nossa Senhora do Bonsucesso, em Guarulhos.
O clima entre parentes e amigos
de Élcio ontem era de revolta. "Ele
era muito bem-humorado, alegre,
brincava com todo mundo. Eu
quero justiça", diz sua irmã mais
velha, Elaine Cristina Souza, 19.
Segundo o advogado especializado em educação Mauro Bueno, a
família pode acionar judicialmente o Estado, pois a Secretaria de Estado da Educação é responsável
pela segurança dos estudantes
dentro das escolas.
A secretária da Educação de São
Paulo, Rose Neubauer, diz lamentar a morte do garoto e que a solução para a violência nas escolas depende da articulação de políticas
entre a área da educação, saúde e
segurança. "A escola é vítima de
um problema maior que não pode
resolver sozinha. É preciso que a
sociedade se organize e que seja
criada uma legislação mais rígida,
que controle a venda de armas."
O pai do garoto, Nolasco de Souza, marmorista, 55, ainda pensa no
que fazer. "É difícil aceitar. Era um
bom menino. Tudo o que queria
na vida era ficar famoso jogando
futebol." Élcio integrava a equipe
de juniores da Associação Atlética
Flamengo, em Guarulhos.
"Ele fez um teste físico na quarta-feira (um dia antes de morrer) e ficou em primeiro lugar. Ele tinha
muito futuro", diz Nerivaldo Rego,
professor de futebol de Élcio.
Colaborou
Roberto Ortega, do "Notícias Populares"
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