São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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SAÚDE

Em 16 capitais, taxa dos que deixaram de fumar chega a 58,3%; preocupa o aumento do número de jovens fumantes

Ministério vê queda no consumo de cigarro

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos últimos 15 anos, o brasileiro reduziu o consumo de cigarros. O jovem, no entanto, difere desse comportamento, o que preocupa o Ministério da Saúde.
A constatação foi feita ontem pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) e pelo ministério, durante a divulgação de duas pesquisas sobre o tabagismo no país.
Em 1989, último dado disponível, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estimou em 31,7% o índice de fumantes no país. Em uma das pesquisas divulgadas ontem, feita pelo Inca, a taxa em 16 capitais varia de 12,9% em Aracaju (SE) a 25,2% em Porto Alegre (RS).
Por isso, embora a metodologia diferente não permita uma comparação direta, o Inca considera que houve a redução.
A pesquisa também indicou que as maiores taxas de fumantes estão entre homens, de capitais das regiões Sul e Sudeste e com até sete anos de escolaridade (ensino fundamental incompleto).
Ela apresenta o percentual de tabagismo no Brasil com base em 23.457 entrevistas feitas em 16 capitais. Já a outra pesquisa, feita com a colaboração da OMS (Organização Mundial da Saúde), traz a taxa entre alunos de 7ª e 8ª séries do fundamental e do 1º ano do ensino médio de escolas públicas e particulares de 12 capitais.
Os trabalhos foram apresentados no Dia Mundial sem Tabaco, que neste ano tem o Brasil como sede das comemorações.
"O impacto positivo da redução de fumantes no Brasil sobre a saúde pública será perdido se os jovens continuarem fumando", diz o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa.
A OMS estima que 100 mil crianças e jovens se tornam fumantes regulares por dia no mundo. Globalmente, segundo a organização, cerca de 300 milhões de fumantes são jovens. Não é possível comparar os índices brasileiros divulgados ontem com os de outros países, segundo o Inca.
Outro dado importante da pesquisa das 16 capitais: a taxa de pessoas que pararam de fumar é alta, ficando entre 44% e 58,3%. Chega a ser superior se comparado a países desenvolvidos, como Estados Unidos -média de 40%.

Capitais do Sul lideram
A pesquisa aponta ainda que a maior proporção de fumantes regulares está nas cidades do Sul -Porto Alegre (25,2%), Curitiba (21,5%) e Florianópolis (21,4%).
Quando a divisão é feita por sexo, o percentual entre os homens varia de 17,9% (Natal) a 28,2% (Porto Alegre), enquanto entre as mulheres não passa de 22,9% (também na capital gaúcha).
A taxa de escolaridade é outro fator correlacionado à decisão de fumar. O Inca está preparando, com base nesses dados, uma média geral para o Brasil, que deve ser divulgada até o final do ano.
Em relação aos jovens, mais meninos experimentam cigarro em comparação a meninas, com exceção dos moradores de Curitiba e Porto Alegre. Entre 11,5% e 35,3% seriam classificados como fumantes regulares, ou seja, fumaram cem cigarros ou mais na vida e continuam com o hábito.
Entre os que já experimentaram, há um alto índice de adolescentes que fumaram pela primeira vez antes dos 13 anos. Varia de 47% dos jovens entrevistados em Aracaju até 80% em Curitiba.
No ano passado, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (RS) divulgou estudo que revela a existência de uma forte correlação entre o trabalho na juventude e o hábito de fumar. Entre os jovens trabalhadores a prevalência de fumo foi de 14,9%; entre os que não trabalhavam, foi de 4%.
Para o diretor-geral do Inca, José Gomes Temporão, um dos dados mais preocupantes é que, em todas as capitais pesquisadas, entre 60,2% e 89,9% dos jovens fumantes dizem comprar cigarro em lojas sem ser impedidos. "Mostra fragilidade das políticas públicas nesse aspecto, apesar da legislação rígida."
O Brasil foi escolhido pela OMS como sede das atividades do Dia Mundial sem Tabaco pelo reconhecimento do trabalho no controle do cigarro -restrição em propagandas, por exemplo. O país foi o segundo a assinar a convenção internacional e deve estar entre os 40 primeiros a ratificá-la.
Esse trabalho rendeu ontem, inclusive, elogio do ministro da Saúde, Humberto Costa, ao ex-ministro José Serra.


Colaborou a Redação


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