|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENSINO SUPERIOR
Anúncios na rede vendem trabalhos acadêmicos e põem em xeque validade de títulos de graduação e pós-graduação
Internet expõe e expande comércio de teses
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma prática que se dissemina
com as ofertas feitas pela internet
está comprometendo a validade
dos títulos em cursos de graduação e de pós-graduação do país: o
comércio de monografias, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de
doutorado.
Os "empresários das monografias", como são conhecidos, espalham seus anúncios pela internet.
Em apenas uma pesquisa em um
site de busca da rede foram encontradas mais de 200 páginas fazendo ofertas para "facilitar" a vida do estudante que é "muito
ocupado", "que trabalha muito" e
que não quer se "estressar" com
um trabalho acadêmico, de acordo com os próprios anúncios das
páginas.
A Agência Folha fez a pesquisa
para mostrar como está disseminado o mercado de monografias a
partir de um caso concreto que
ocorreu em Santa Catarina.
Após receber denúncia de que
alguns alunos estariam encomendando trabalhos pela internet, a
direção da UFSC (Universidade
Federal de Santa Catarina) determinou que os professores evitem
pedir pesquisas e fiquem mais
alertas aos trabalhos apresentados pelos estudantes.
A universidade também está
adquirindo um programa de
computador que pode rastrear
dados do trabalho na rede.
"O aluno pode pegar informações na internet. É normal. Mas
comprar o trabalho é inadmissível e pode ter até desdobramentos
jurídicos. Estamos pedindo aos
professores que evitem pedir trabalhos e, se pedirem, exigir uma
apresentação oral, uma prova sobre o tema. É preciso reduzir a demanda desses sites", afirmou José
Carlos Cunha Petrus, diretor do
Departamento de Apoio à Pós-Graduação da UFSC.
Negociação
A Agência Folha, sem informar
que se tratava de uma reportagem, enviou e-mails para 11 endereços eletrônicos pedindo detalhes do "negócio". Todos responderam. Dois disseram que não
poderiam escrever o trabalho.
Outros nove o fariam.
Nas entrevistas, os "empresários da monografia" revelam detalhes do esquema que já estaria,
segundo eles, "profissionalizado".
O negócio está presente em várias
partes do país: São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Paraná,
Rio Grande do Sul, Brasília e
Amazonas são algumas delas.
Nas mensagens enviadas pela
reportagem foram pedidos orçamentos para a elaboração de uma
dissertação de mestrado, com 120
páginas, e para uma tese de doutorado, com 250 páginas. Para fazer o trabalho de um futuro mestre, o valor ficou entre R$ 600 e R$
1.200. O trabalho de um doutorando varia de R$ 1.000 a R$
4.000.
Os "empresários", que se identificam como ex-professores universitários, advogados experientes e até juízes aposentados, propõem-se a elaborar todas as fases
do trabalho. O aluno não precisa
se preocupar nem com a escolha
de uma bibliografia. Caso o tema
não esteja bem definido, também
não há problema -os donos do
negócio fazem isso.
"O senhor vai acompanhar passo a passo a elaboração do trabalho. Mensalmente nós vamos lhe
mandar os capítulos. O seu acompanhamento vai ser total", afirmou a dona de um site que faz trabalhos na área de direito.
Ela se identificou como ex-juíza
federal aposentada e disse que sua
"equipe", que seria formada por
oito ex-juízes, faria trabalhos de
pós-graduação para procuradores, promotores e juízes.
Em um dos sites que oferecem
trabalhos (www.monoweb.cjb.net), há um suposto ranking das universidades que mais
pedem os serviços, detalhes de como fazer o pedido e propaganda.
Um dos "empresários", durante
conversa sobre os detalhes do negócio, identificou-se com o nome
completo e como sendo professor
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro).
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Frase Índice
|