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FRAUDES NO LIXO
Papéis apreendidos pela Promotoria sugerem que funcionário estava em três subprefeituras na mesma hora
Boletim de fiscal indica nova irregularidade
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A julgar pelos boletins de fiscalização apreendidos pelo Ministério Público, o dia 7 de maio de
2001 foi um verdadeiro inferno na
vida de A.C., funcionário do Limpurb (Departamento de Limpeza
Urbana). Os boletins sugerem
que ele estava em até três subprefeituras da zona leste exatamente
na mesma hora, atestando a execução de serviços de varrição ou a
correta formação de equipes
complementares de limpeza.
A aparente onipresença do fiscal é mais um dos indícios da existência de fraudes na fiscalização
dos serviços de limpeza da cidade,
alvo de investigação da polícia, da
Ouvidoria e da Promotoria.
Os boletins em questão são base
para o pagamento das empresas.
Se a fiscalização falha ou deliberadamente se omite, o governo paga
por serviços que não necessariamente foram realizados. Há indícios de que as irregularidades cheguem a consumir até 70% do valor de alguns desses contratos.
"Somados aos demais documentos, esses boletins formam
uma prova absolutamente consistente", avalia o promotor Sérgio
Turra, da Cidadania, um dos que
conduzem as apurações.
Turra se refere à existência de
boletins preenchidos antecipadamente -antes mesmo da data de
execução dos serviços-, como a
Folha noticiou ontem, e a documentos preenchidos com a mesma letra e assinados por vários fiscais do Limpurb.
Por trás de todos esses procedimentos estaria sempre a mesma
irregularidade: de uso exclusivo
dos funcionários públicos municipais, os boletins -de inspeção
de serviços ou de controle de presença- estariam sendo irregularmente preenchidos pelas próprias empresas fiscalizadas e depois apenas assinados pelos representantes do governo.
Em todos os casos constatados
até agora, eles evidentemente
atestavam serviços realizados de
forma plenamente satisfatória.
Já há indícios de envolvimento
de 13 funcionários do Limpurb
nas fraudes. Não se sabe, porém, o
que eles recebiam em troca.
O Ministério Público deve pedir
a suspensão dos contratos -que
vencem em outubro deste ano.
A polícia pretende indiciar os
envolvidos nos desvios por corrupção, falsificação de documento e formação de quadrilha.
Três em um
Os boletins preenchidos pelo
fiscal A.C. foram apreendidos em
19 de maio, quando a Promotoria
fez buscas simultâneas nas sedes
do Limpurb e da empresa Cliba
Ltda. Todos estavam no Limpurb
e se referem a subprefeituras da
área de atuação da Cliba.
Em 7 de maio de 2001, o dia de
A.C. começou às 9h, na Subprefeitura de São Miguel Paulista, na
qual ele atestou a presença de sete
pessoas de uma equipe complementar de limpeza. Às 9h15 ele
ainda estava lá, segundo um segundo boletim, mas também às
9h15 ele já atestava a varrição da
avenida Aricanduva, na área da
Subprefeitura de São Mateus.
Outro boletim de controle de
presença indica que às 9h20 A.C.
permanecia em São Mateus. Mas
também às 9h20 ele já atesta a presença de equipes em São Miguel.
A sobreposição se repete às
9h25, às 9h30, às 9h35 e às 9h40.
Às 11h, o fiscal surge em Itaquera.
Às 11h05 já volta a São Miguel.
O vaivém se repete à tarde. Exatamente às 15h, por exemplo, A.C.
atesta a varrição de ruas simultaneamente em Ermelino Matarazzo, em São Miguel Paulista e no
Itaim Paulista. Mais curioso ainda: os boletins têm os números,
respectivamente, 600, 603 e 612.
Ou seja: o fiscal, em tese, como
se não bastasse estar em três lugares ao mesmo tempo, ainda esteve
em outras áreas nessa mesma hora -ou inutilizou vários boletins.
Às 16h10, A.C. atesta a varrição
de uma rua em Itaquera com o
boletim 551 -numeração inferior, inclusive, aos documentos
que ele supostamente preenchera
na manhã daquele dia.
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