AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na casa do técnico em informática Leonardo Mergulhão de Melo, em Santana (zona norte de São Paulo), as formigas aparecem no banheiro, no quarto, na cozinha, na sala e no corredor. Avançam em doces, salgados e até sobre a comida da sua gata de estimação.
Consideradas uma praga urbana, as formigas estão em toda São Paulo -não há bairro mais ou menos infestado, segundo a pesquisadora Ana Eugênia Campos-Farinha, do Instituto Biológico.
Segundo ela, em um estudo realizado em residências no bairro de Vila Mariana, foi avaliado que, de 150 casas investigadas, 78% delas tinham formigas.
O número de espécies por residência variou de uma a cinco. Ela ressalta que o uso indevido de produtos químicos, como inseticidas, espalha as colônias. Segundo Ana Eugênia, de 20 a 30 espécies de formigas são pragas no país -há 2.000 no Brasil.
Nas casas e hospitais, as espécies mais comuns são a fantasma (pequena e quase transparente), a louca e a do faraó. Nos jardins, as mais comuns são as lava-pés, e nas árvores, as carpinteiras.
Segundo Taís Pires, da Nikkey Dedetização, a procura maior para exterminar formigas ocorre no verão. "Colocamos pó químico em conduítes e tomadas, fazemos pulverização e aplicamos gel."
As formigas não gostam só de doce. "Outro dia, caiu um pouco de requeijão na mesa. Elas devoraram", disse Leonardo de Melo.
A tarefa de evitar a entrada das formigas em casa é complicada, já que seus ninhos podem chegar em vasos e até em caixas de papelão. Em prédios, elas podem transitar pelos conduítes de fios.
Quando as formigas já se instalaram, é preciso verificar por onde elas entram e saem e injetar nos buracos uma solução de água com detergente.
Segundo a pesquisadora Ana Eugênia, o detergente retira uma camada de cera que protege as formigas. Como elas têm pouca água em seu organismo, morrem por desidratação. "É uma forma barata, eficiente, que não polui o ambiente e não agride a saúde do homem e seus animais."

Infecções
Um estudo da professora de microbiologia da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) Rosângela Abreu Monteiro de Barros, 50, constatou que formigas atuam como vetores de infecções provocadas por fungos em hospitais.
A pesquisa, que incluiu a disposição de iscas em 300 pontos de um hospital universitário em Juiz de Fora (MG), comprovou que os insetos se contaminam com fungos e os distribuem por onde passam -até dentro do ninho.
Os fungos podem causar alergias, principalmente respiratórias, e micoses (simples ou fatais).
"Já encontrei 30 espécies diferentes de fungos nas formigas. Os insetos podem ser vistos em todas as partes do hospital, até nos centros cirúrgicos e nas UTIs."
Segundo ela, muitas vezes as formigas são atraídas pelo soro glicosado. E, para comprovar que não há relação entre as formigas e a sujeira, elas foram vistas até em materiais esterilizados.
Estudos anteriores já haviam concluído que as formigas carregam, além dos fungos, bactérias perigosas. "As formigas devem ser encaradas como problema sério em ambientes hospitalares, principalmente. Elas veiculam bactérias em seus corpos e, por caminharem longas distâncias e sobre equipamentos e material esterilizado, podem contaminá-los", disse Ana Eugênia. Segundo ela, havia até bactérias resistentes a antibióticos em formigas.


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