São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Eu me sinto como estranha aqui dentro, afirma professora

DA REVISTA DA FOLHA

Pelo menos a cada 15 dias, a professora Fusako Hashimoto Takesaki, 58, precisa fazer uma reserva de quarto para recepcionar a filha Naomi, 24, que estuda medicina em Campinas e passa alguns fins de semana com os pais, em São Paulo.
"Quando morávamos na nossa casa, ela tinha seu próprio quarto, chegava quando bem entendesse. Agora, precisa me avisar quando vem e eu tenho que fazer a reserva com cinco dias de antecedência", diz
"Entendo e respeito as normas do hotel. O problema é que, se não tiver vaga, ela não pode vir. Imagine eu não poder receber minha própria filha."
Antes do acidente, o casal morava havia 38 anos num sobrado de 100 m2 na rua Conselheiro Pereira Pinto, 276. Hoje, Fusako e o marido, o comerciante Fumio, 54, estão nos 24 m2 do quarto do hotel Quality, próximo à avenida Faria Lima. No quarto ao lado, no sétimo andar, está o filho, Yutaka Fábio, 23, estudante de engenharia ambiental. "Lavo os meus tênis na pia do banheiro. Toda semana, preciso ir em casa buscar os livros que vou utilizar no período e levar de volta os que não estou usando."
O imóvel da família, segundo Fusako, sofreu rachaduras em conseqüência das obras do metrô. O casal discorda da oferta do Consórcio Via Amarela de R$ 5.000 por danos materiais, valor que, segundo a professora, representa 10% dos custos da reforma do sobrado.
No hotel, Fumio não conseguiu se adaptar ao cardápio ocidental. "Ele é japonês, veio para o Brasil já adulto e come arroz branco sem tempero. Teve duas gastrites com a comida daqui", diz a filha de japoneses Fusako. Para auxiliar na alimentação do marido, a mulher levou uma panela elétrica para preparar arroz no quarto.
Mãe e filho dizem que as vantagens do hotel, como cama confortável, segurança, piscina e sauna -apesar de os dois últimos itens eles nunca terem usado- não compensam a falta de liberdade e a "saudade de se sentir à vontade". "Por pior que seja a casa da gente, ela é nossa. Eu me sinto uma estranha aqui dentro", diz Fusako.


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