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Eu me sinto como estranha aqui dentro, afirma professora
DA REVISTA DA FOLHA
Pelo menos a cada 15 dias, a
professora Fusako Hashimoto
Takesaki, 58, precisa fazer uma
reserva de quarto para recepcionar a filha Naomi, 24, que
estuda medicina em Campinas
e passa alguns fins de semana
com os pais, em São Paulo.
"Quando morávamos na nossa casa, ela tinha seu próprio
quarto, chegava quando bem
entendesse. Agora, precisa me
avisar quando vem e eu tenho
que fazer a reserva com cinco
dias de antecedência", diz
"Entendo e respeito as normas do hotel. O problema é
que, se não tiver vaga, ela não
pode vir. Imagine eu não poder
receber minha própria filha."
Antes do acidente, o casal
morava havia 38 anos num sobrado de 100 m2 na rua Conselheiro Pereira Pinto, 276. Hoje,
Fusako e o marido, o comerciante Fumio, 54, estão nos 24
m2 do quarto do hotel Quality,
próximo à avenida Faria Lima.
No quarto ao lado, no sétimo
andar, está o filho, Yutaka Fábio, 23, estudante de engenharia ambiental. "Lavo os meus
tênis na pia do banheiro. Toda
semana, preciso ir em casa buscar os livros que vou utilizar no
período e levar de volta os que
não estou usando."
O imóvel da família, segundo
Fusako, sofreu rachaduras em
conseqüência das obras do metrô. O casal discorda da oferta
do Consórcio Via Amarela de
R$ 5.000 por danos materiais,
valor que, segundo a professora, representa 10% dos custos
da reforma do sobrado.
No hotel, Fumio não conseguiu se adaptar ao cardápio ocidental. "Ele é japonês, veio para o Brasil já adulto e come arroz branco sem tempero. Teve
duas gastrites com a comida
daqui", diz a filha de japoneses
Fusako. Para auxiliar na alimentação do marido, a mulher
levou uma panela elétrica para
preparar arroz no quarto.
Mãe e filho dizem que as
vantagens do hotel, como cama
confortável, segurança, piscina
e sauna -apesar de os dois últimos itens eles nunca terem
usado- não compensam a falta
de liberdade e a "saudade de se
sentir à vontade". "Por pior que
seja a casa da gente, ela é nossa.
Eu me sinto uma estranha aqui
dentro", diz Fusako.
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