São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

Texto Anterior | Índice

JOVINA MARIA DA CONCEIÇÃO SOUTO (1915-2008)

A última cangaceira do bando de Lampião

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Jovina Souto passara dos 90 com os vestidos floridos de "tudo quanto era colorido", pulseiras e anéis enchendo-lhe mãos e dedos e o cheiro de pó-de-arroz dos tempos em que fugira de casa para seguir o bando de Lampião pelo sertão da Bahia.
"Era mais bonita que Maria Bonita", diz a filha, hoje ciente de tudo -mas que, por décadas, ignorou a vida da mãe no cangaço. "Ela gostava de falar bobagem, safadeza", mas sobre o passado, nada. Até que, em 2005, a filha, curiosa, conheceu o irmão e arrancou a verdade da mãe.
Jovina foi Durvalina de Sá, filha do fazendeiro de Paulo Afonso (BA) de quem muito apanhava e em cuja fazenda via o bando de Lampião chegar "atrás de farra e comida". Foi após um namorico com o cangaceiro Virgílio, aos 14, "mal começava a ter seios após a segunda regra", que, "um belo dia, fez a trouxinha, subiu na mulinha e se foi".
Tempo "de vidão no cangaço", com Virgílio tratando-a "como princesa, dando comida na boca, enchendo ela de jóias"; até ser morto pela polícia com o bando, em 1938. Escaparam ela e Moreno, ou Antônio Inácio da Silva, que se casaram, foram a Pernambuco e, no lombo de um burro dado pelo padre, seguiram até Minas Gerais.
Lá, trocaram de nome, viraram lavradores e viveram em silêncio, até que a filha descobriu o irmão. Jovina tivera 18 filhos -seis, hoje, vivos. Tinha 14 netos e uma predileção por caqui, que comeu a pedido horas antes de morrer de derrame, no sábado, aos 93 e sem segredos.


obituario@folhasp.com.br

Texto Anterior: Mortes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.