São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2005

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"Um pai de família podia ter morrido"

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Noite de dezembro de 2003, em Recife. Dois homens e uma mulher assaltam uma casa lotérica e invadem um depósito de bebidas. A mulher encosta uma pistola na cabeça de um funcionário. A polícia chega, e os três são presos.
Julho de 2005. Cumprindo pena de cinco anos e oito meses de prisão por assalto a mão armada, Sandra (nome fictício), 24, é beneficiada pelo regime semi-aberto. Hoje, nos momentos de liberdade, trabalha e apóia a campanha pelo desarmamento. Tenta convencer amigos e parentes do que diz ter aprendido na prática.
"Hoje eu penso no que teria acontecido se a pistola tivesse disparado. Um pai de família teria morrido, e a minha vida estaria acabada." Sandra afirma que nunca havia participado de um assalto e que só cometeu o crime porque empunhar a arma a fez se sentir "poderosa".
Para ela, controlar esse sentimento de superioridade é o grande desafio para quem carrega uma arma. "Eu me senti com a força de um homem."
Por cumprir pena, Sandra não poderá votar no referendo. Entretanto, diz que, se conseguir convencer pelo menos uma pessoa a votar a favor do desarmamento, já se sentirá recompensada. "Essa pessoa vai votar por mim."
Mãe de dois filhos, ela acredita que a proibição reduziria a violência. "Hoje, em qualquer lugar tem arma ilegal para vender."
Sandra já cumpriu um ano e sete meses de sua pena. Com autorização judicial, trabalha há um ano e três meses na unidade penal. Um terço do salário mínimo que recebe do governo estadual é depositado em uma poupança e só poderá ser usado em liberdade.
Com a concessão do regime semi-aberto, Sandra passou a trabalhar no período da manhã e em parte da tarde na Seres (Secretaria Executiva de Ressocialização).
No local, diz ter recebido mais informações sobre o referendo, que repassa no presídio, a amigos e à família. Em casa, afirma, já conseguiu o apoio de todos. Mas, na unidade penal, "onde tem gente revoltada", não há unanimidade. "Algumas apóiam; outras dizem que fariam tudo de novo."


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