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"Um pai de família podia ter morrido"
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Noite de dezembro de 2003, em
Recife. Dois homens e uma mulher assaltam uma casa lotérica e
invadem um depósito de bebidas.
A mulher encosta uma pistola na
cabeça de um funcionário. A polícia chega, e os três são presos.
Julho de 2005. Cumprindo pena
de cinco anos e oito meses de prisão por assalto a mão armada,
Sandra (nome fictício), 24, é beneficiada pelo regime semi-aberto.
Hoje, nos momentos de liberdade, trabalha e apóia a campanha
pelo desarmamento. Tenta convencer amigos e parentes do que
diz ter aprendido na prática.
"Hoje eu penso no que teria
acontecido se a pistola tivesse disparado. Um pai de família teria
morrido, e a minha vida estaria
acabada." Sandra afirma que
nunca havia participado de um
assalto e que só cometeu o crime
porque empunhar a arma a fez se
sentir "poderosa".
Para ela, controlar esse sentimento de superioridade é o grande desafio para quem carrega
uma arma. "Eu me senti com a
força de um homem."
Por cumprir pena, Sandra não
poderá votar no referendo. Entretanto, diz que, se conseguir convencer pelo menos uma pessoa a
votar a favor do desarmamento,
já se sentirá recompensada. "Essa
pessoa vai votar por mim."
Mãe de dois filhos, ela acredita
que a proibição reduziria a violência. "Hoje, em qualquer lugar tem
arma ilegal para vender."
Sandra já cumpriu um ano e sete meses de sua pena. Com autorização judicial, trabalha há um ano
e três meses na unidade penal.
Um terço do salário mínimo que
recebe do governo estadual é depositado em uma poupança e só
poderá ser usado em liberdade.
Com a concessão do regime semi-aberto, Sandra passou a trabalhar no período da manhã e em
parte da tarde na Seres (Secretaria
Executiva de Ressocialização).
No local, diz ter recebido mais
informações sobre o referendo,
que repassa no presídio, a amigos
e à família. Em casa, afirma, já
conseguiu o apoio de todos. Mas,
na unidade penal, "onde tem gente revoltada", não há unanimidade. "Algumas apóiam; outras dizem que fariam tudo de novo."
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