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CIDADANIA
Trabalho cita a falta de projetos de geração de renda para internados em hospitais psiquiátricos voltarem para casa
Relatório mapeia programa de saúde mental
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Auditoria do TCU (Tribunal de
Contas da União) feita no programa de saúde mental brasileiro
lança luz sobre dificuldades no
andamento da reforma psiquiátrica, mostrando que o processo
de reinserção dos pacientes na sociedade ainda terá uma série de
barreiras a ultrapassar.
Finalizado em maio e ainda inédito, o trabalho aponta um alto
número de pacientes internados
há mais de um ano em hospitais
psiquiátricos -estima-se que sejam cerca de 20 mil. Por outro lado, cita a falta de projetos de geração de renda para esse público.
Ao analisar o programa De Volta para Casa, uma das prioridades
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva nessa área, elogia a iniciativa, mas considera baixo o número de beneficiários em relação ao
potencial, estimado em 11 mil
pessoas. Usando dados do final de
2004, o relatório do TCU fala em
800 pacientes beneficiados pelo
programa. Em junho, chegou-se a
1.263 atendidos.
O De Volta para Casa tem o objetivo de tirar dos hospitais pessoas internadas há mais de dois
anos ininterruptamente.
Para isso, paga R$ 240 mensais
ao paciente para que ele tenha
condições de voltar a viver com a
família. Mas o programa esbarra
em dificuldades como a ausência
de documentos dos pacientes, as
internações interrompidas e os
casos de pessoas que completaram o período exigido logo após a
lei, de julho de 2003.
Outros problemas
Também há a falta de serviços
residenciais terapêuticos, espécie
de república para pacientes sem
vínculo familiar. Pelos dados do
governo, são apenas 294 no país,
sendo 209 na região Sudeste. A
meta é chegar a 526 neste ano.
"Como conseqüência de todos
esses problemas, observa-se uma
lentidão no processo de desospitalização dos pacientes crônicos,
pois, além da rede substitutiva incipiente, há dificuldades de conseguir o benefício para os beneficiários potenciais, o que põe obstáculos ao seu processo de autonomia e o priva de um direito que
lhe cabe", diz o texto da auditoria
do Tribunal de Contas da União.
Aliado a isso, o trabalho aponta
ainda um insuficiente número de
centros de atendimento psicossocial, os CAPs. Os centros estão
sendo montados nos municípios
para atender a portadores de problemas mentais, usuários de drogas e de álcool. Devem ajudar a
promover a reinserção social, em
conjunto com os serviços residenciais terapêuticos.
Segundo o ministério, existem
622 CAPs, além de outros 250 em
implantação. A região Sudeste
concentra 45% dos que funcionam. O Amazonas, com uma população de 2,8 milhões de habitantes, ainda não tem nenhum.
Apesar de apontado pelo TCU
como ainda insuficiente, o Rio
Grande do Sul tem a melhor relação CAPs/habitante: 0,66 unidade
para 100 mil moradores.
"As razões para isso devem-se
ao fato de a implementação da reforma ser fortemente dependente
da vontade política dos gestores
locais. Embora o discurso da necessidade da reforma mostre ser
quase unânime, na prática as
ações tomadas nessa direção em
alguns Estados não correspondem a essa orientação", diz o relatório dos auditores do tribunal.
Nas recomendações feitas pelo
TCU ao governo federal estão a
implementação de programas de
avaliação dos CAPs, a serem implementados em conjunto com as
secretarias da Saúde dos Estados.
Nova visão
Promulgada em 2001, a lei da reforma psiquiátrica prevê a internação de pacientes como último
recurso a ser usado. A partir dessa
diretriz, o governo federal vem
desenvolvendo desde 2003 o programa de reestruturação hospitalar, induzindo os hospitais a reduzirem os leitos psiquiátricos por
meio de aumentos diferenciados
de repasse de recursos.
A reforma também prioriza a
incorporação de ações de reinserção social às políticas públicas.
Aí é que entra o problema. Segundo a pesquisa do TCU, com
base em questionários respondidos por 520 CAPs, 52,35% deles
não desenvolvem nenhum tipo de
atividade de geração de renda.
"A carência de oficinas para a
geração de emprego e renda pode
ser explicada pela falta de articulação com outras áreas da administração pública e por falta de
uma política para incentivar a
contratação de pessoas portadoras de transtornos mentais. A
principal repercussão disso é a dificuldade para inserir os pacientes
no mercado de trabalho, adiando
ou dificultando sua integração social", diz o relatório.
Nesse quadro se encaixa ainda o
preconceito, que acaba dificultando a implantação de atividades
comunitárias. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima
que 24% da população mundial
apresente algum tipo de transtorno mental.
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