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INCLUSÃO SOCIAL
Professor da USP Shigeo Watanabe procura alunos com habilidades na matéria em escolas públicas desde 1977
Físico caça talentos de matemática em SP
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Se existisse um título de doutor
honoris causa por inclusão social,
poucos brasileiros o mereceriam
tanto quanto o professor Shigeo
Watanabe.
Desde 1977, o professor concilia
a atividade de pesquisador e docente do Instituto de Física da
USP (Universidade de São Paulo)
com o ofício voluntário de descobridor de jovens talentos em matemática em escolas públicas de
São Paulo.
Por sua causa, mais de 200 estudantes carentes ganharam bolsas
em escolas particulares e chegaram às melhores universidades
públicas do Estado. Quem conhece Watanabe diz que é essa a grande paixão de sua vida, e o que o faz
continuar trabalhando mesmo
aos 81 anos.
Essa obstinação produziu histórias como a de Reneu Andrioli Júnior, 26. Filho de um recepcionista e de uma manicure, ele foi descoberto por Watanabe em uma
olimpíada de matemática que o
professor organiza para descobrir
esses novos talentos.
Andrioli é hoje engenheiro da
Embraer e acaba de concluir seu
mestrado no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).
"Fui o primeiro da família a ter
nível superior. Minha professora
me dizia que eu tinha muito potencial, mas a ajuda dele foi fundamental para convencer a mim e
a minha família de que eu conseguiria chegar a uma universidade.
Sem a bolsa que eu recebi, tudo
seria muito mais difícil", afirma
Andrioli.
A preocupação com o futuro
destes jovens talentos começou
em 1977, quando foi organizada a
primeira Olimpíada Paulista de
Matemática.
O pai do aluno vencedor da
competição contou a Watanabe
que seu filho pararia de estudar na
oitava série para trabalhar.
Com a ajuda da Academia de
Ciências do Estado de São Paulo,
no entanto, esse estudante conseguiu uma bolsa num colégio particular. Depois, se formou pelo
ITA e hoje é pesquisador do Centro de Tecnologia de Marinha.
O estudante de 1977 foi apenas
o primeiro de uma série. Nas contas de Watanabe, são mais de 200
alunos.
O sucesso das olimpíadas de
matemática o obrigou a procurar
escolas particulares dispostas a
receber esses alunos.
O maior parceiro, atualmente, é
o colégio Objetivo.
Projeto
De 1989 a 2004, o professor recebeu apoio da fundação Vitae, que
ofereceu cinco novas bolsas por
ano para alunos de baixa renda
que se destacavam nas olimpíadas. Neste ano, o projeto ganhou
novo parceiro: o Ismart (Instituto
Social Maria Telles), que tem como missão descobrir e desenvolver o potencial de talentos de baixa renda.
De acordo com seus colaboradores, quando o apoio de organizações não era suficiente, Watanabe ajudava os alunos do próprio bolso.
Avesso a entrevistas, ele não
gosta de falar disso: "Não é isso
que é importante. O que importa
é que a gente tem que estar
disposto a fazer algo por esses
alunos".
Seus 81 anos não diminuíram o
entusiasmo pelo projeto. Neste
ano, ele decidiu ampliar as olimpíadas para escolas públicas de
todo o Estado, em vez de se restringir à capital.
Apesar de já ter ajudado mais de
200 alunos, continua achando
que é preciso fazer mais.
"Infelizmente, tem muito aluno
bom que ser perde por aí. Essas
crianças são muito inteligentes.
Como aconteceria com aquele garoto de 1977, quando a família é
de baixa renda, eles correm o risco de parar de estudar para trabalhar ou fazer um curso superior
de baixa qualidade. Alguém tem
que ajudar esses jovens talentos.
Eles são importantes para o desenvolvimento científico e tecnológico do país", afirma.
Atenção
Essa preocupação faz com que o
professor continue acompanhando de perto o desempenho de cada aluno beneficiado.
"Temos aqui no Objetivo 30
alunos encaminhados pelo projeto. É impressionante como ele
gosta de cuidar desses bolsistas.
Pega o boletim todo bimestre,
conversa com os pais e puxa a
orelha quando é o caso. Mesmo
quando o estudante é do interior,
vai pessoalmente ver como está",
afirma Maria Luiza de Guimarães, diretora pedagógica do Objetivo.
"Sua felicidade é ver essa meninada bem encaminhada. Não
gosta de publicidade, mas a verdade é que há muitas pessoas que
hoje são pós-graduadas e têm carreiras brilhantes por causa de sua
ajuda", diz.
Sua preocupação com os talentos que descobriu não pára no
momento em que eles são encaminhados para colégios particulares. Mesmo quando chegam à
universidade, continua sendo
uma referência.
"Ele sempre se preocupou com
nosso desempenho no colégio e,
no meu caso, me acompanhou de
perto na USP porque fui bolsista
dele no Instituto de Física", diz
Andrioli.
"Também organiza encontros
na sua casa com vários bolsistas,
para mostrar para os mais novos
exemplos de quem já tinha passado pelo projeto. Apesar de cobrar
bom desempenho, é como um
pai", afirma.
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