São Paulo, sexta, 1 de agosto de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRÁFICO
Mafiosos considerados "emergentes" controlariam entrada e distribuição da droga que vem da Colômbia
Heroína passa pelo Brasil rumo à Europa

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O Brasil é rota de passagem de parte da heroína consumida em países europeus. A viagem da heroína começa na Colômbia, tradicional fabricante de cocaína, outra droga que passa por solo brasileiro antes de chegar à Europa.
O alerta de que no Brasil funciona o mais recente corredor do tráfico internacional de heroína é da Fundação Giovanni Falcone, que tem sede na Itália e se dedica a estudar assuntos relacionados às máfias.
O governo brasileiro já recebeu da Interpol (polícia internacional) e do governo dos Estados Unidos informes sobre a passagem de heroína pelo território do país. Desde 1995 que a PF (Polícia Federal) não faz apreensões de heroína.

Maior produtor
A Colômbia já é o quarto maior país produtor de papoula (planta da qual se obtém o ópio, matéria-prima da heroína) em todo o mundo.
A liderança mundial no plantio de papoula é dos países asiáticos que integram o chamado "triângulo de ouro" do tráfico de heroína: Myanma (ex-Birmânia), Tailândia e Laos.
De acordo com a Interpol, nos últimos anos foram plantados na Colômbia cerca de 50 mil acres de papoula. A colheita da planta na Colômbia ocorre uma vez por ano.
Presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone -entidade associada à fundação italiana-, o juiz Walter Fanganiello Maierovitch disse à Folha que a heroína passa pelo Brasil no mesmo carregamento da cocaína.
A entrada no país de carregamentos conjuntos de cocaína e heroína recebe, no linguajar policial, o nome de "operação casada".
Os integrantes das quadrilhas que cuidam do transporte e da segurança da droga em território brasileiro são chamados de "mafiosos emergentes" pela Fundação Giovanni Falcone e entidades internacionais associadas.
Mafiosos emergentes
De acordo com Maierovicth, os "mafiosos emergentes" foram treinados por emissários das máfias italianas.
"O Brasil, hoje, é berço das máfias emergentes, que cuidam das rotas, do transporte das drogas, da venda de produtos para o refino (éter e acetona) e até da comercialização da droga em mercados locais", disse o juiz, que trabalha em São Paulo.
O setor de informações reservadas da polícia italiana aponta o mafioso siciliano Alfonso Caruana como o homem enviado pela máfia para treinar os "emergentes" brasileiros.
"Caruana pode ser considerado o principal articulador do narcotráfico na América Latina. Pelo que sabemos, ele vive no Brasil, frequentando muito o Rio de Janeiro", disse Maierovitch.

Apreensões
As apreensões de heroína no Brasil têm sido raras. Os registros da PF indicam que, nesta década, só houve apreensões da droga em 1990, 94 e 95.
Em 90, segundo a PF, foram apreendidos 2,30 gramas de heroína. A apreensão ocorrida em 94 foi bem maior: 12,78 kg.
A PF não apreende a droga há dois anos. O último registro é de 95, quando foram apreendidos 5,60 gramas de heroína.
A Folha tentou ouvir a Polícia Federal sobre o caso.
A assessoria do órgão informou que o chefe do Serviço de Repressão a Entorpecentes da PF, Getúlio Bezerra Santos, não falaria sobre o assunto.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.