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Trem fazia ultrapassagem, afirma técnico
Informação foi dada à polícia por um dos ocupantes da composição em teste, que foi atingida pelo trem de passageiros
Investigação contará com
dados das caixas-pretas para determinar se acidente
foi provocado por falha
técnica ou por erro humano
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
O trem sem passageiros que
foi atingido por outro que
transportava cerca de 750 pessoas, anteontem em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, fazia
uma ultrapassagem na hora do
acidente, afirmou ontem um
técnico da Supervia em depoimento à polícia.
Ele estava na cabine no primeiro vagão do trem que estava
em teste. O choque deixou oito
mortos e 101 feridos.
A composição vazia pegou
uma chave (desvio) e ultrapassou um trem em manutenção
que trafegava em baixa velocidade à sua frente. Não conseguiu voltar a tempo ao trilho
original.
Ao avistar o trem de passageiros que vinha na direção
oposta pela mesma pista, o técnico afirmou que o maquinista
acelerou para chegar à chave
que o levaria de volta ao trilho
original e evitaria a colisão.
Apenas dois vagões entraram
no desvio a tempo.
O trem com passageiros, que
seguia para Japeri, na Baixada,
atingiu o final do terceiro vagão
da composição que seguia em
direção oposta rumo à estação
da Central do Brasil e tombou.
Antes do choque, o trem
cheio acabara de fazer uma curva, onde logo depois há um sinal indicando ao maquinista se
ele deve seguir ou parar.
O professor da Coppe/UFRJ
Hostilio Neto classificou a manobra de ultrapassagem como
"anômala". "Não é irregular,
mas com certeza não é um movimento usual. (...) O maquinista não tem volante, só tem freio
ou acelerador. Para mudar de
via, precisa da autorização da
sala de controle."
O comboio atingido acabara
de sair da manutenção e os técnicos verificavam suas condições de uso.
"Quando os trens deixam a
oficina, passam por testes nos
trilhos. Era o que acontecia naquela hora. Mas o maquinista
era experiente", afirmou o presidente da Supervia, concessionária do transporte ferroviário
no Rio, Amin Alves Murad.
Caixa-preta
A exemplo do que acontece
nos acidentes com aviões, as
caixas-pretas dos trens poderão esclarecer se a colisão foi
provocada por erro humano ou
falha técnica.
Segundo a Supervia, cada
trem dispõe de dois sistemas de
registros. Um deles capta todo
o áudio e fica no Centro de
Controle de Operações (CCO),
na Central do Brasil. O outro
grava as informações de velocidade no próprio trem.
Entre as possíveis causas técnicas apontadas pelo professor
da Coppe estão: 1) o sinal do trilho em que estava o trem com
passageiros não ficou vermelho
após a autorização para o outro
usar o desvio; 2) falha no sistema de comunicação direta por
voz entre o CCO e o maquinista
do trem que vinha da Central;
3) os instrumentos do CCO não
detectaram a aproximação da
composição que ia para Japeri
no trilho usado pelo trem vazio
para fazer a ultrapassagem.
A falha humana pode ter sido
cometida, ainda segundo Neto,
pelo maquinista do trem de
passageiros ao não ver o sinal
vermelho acionado após o início da ultrapassagem ou pelo
controlador, ao acionar o Aparelho de Mudança de Via
(AMV) -que faz os vagões trocarem de trilho- sem notar a
aproximação do outro trem.
A Supervia fará uma auditoria para descobrir as causas do
acidente. Murad não descartou
a ocorrência de uma "falha no
sistema, no sinal ou na comunicação". O laudo será concluído
em dez dias e será disponibilizado para a polícia e o Ministério Público, disse Murad.
"O sistema é totalmente seguro. (...) Qualquer opinião sobre as causas antes de sair o laudo é prematura", afirmou.
O delegado da 58ª DP (Posse), Fábio Pacífico, disse que a
principal hipótese é uma "falha
operacional". Ele aguarda o
laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que deve
ser entregue em um mês.
"A princípio não houve interferência externa, como alguém
atravessando a linha do trem.
Precisamos muito do depoimento das outras pessoas que
estavam na cabine."
O maquinista Norival Ribeiro do Nascimento, 50, que dirigia o trem de passageiros, está
internado e não corre o risco de
morrer. Os outros técnicos que
estavam no trem sem passageiros ainda não foram localizados
pela polícia.
O presidente do Sindicato
dos Ferroviários, Valmir de Lemos, afirmou que a falta de conservação dos trilhos, de sinalização e o excesso de trabalho
dos funcionários contribuiu
para o acidente.
"O sinal [do sentido Japeri]
fica depois da curva. Não daria
tempo para o maquinista frear.
Deveria ter uma sinalização antes", afirmou.
O diretor de operações da Supervia, João Gouveia, descartou problemas nos trilhos. Isso
porque o trecho onde ocorreu o
acidente passou por manutenção há uma semana.
Segundo Gouveia, os técnicos fizeram um diagnóstico da
altura e da largura dos trilhos
por meio de uma tecnologia a
laser e não acharam nenhum
defeito. "Isso fecha qualquer
possibilidade de descarrilamento", afirmou.
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