São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Vítima de acidente tinha filho doente

Érica da Silva, uma das oito vítimas do desastre com trens no Rio, estava aflita para buscar vaporizador para seu bebê

Filho único, Renan Pedrosa Moreira, 18, outra vítima do acidente, será enterrado hoje às 10h no cemitério de Queimados, na Baixada

Fotos Rafael Andrade/Folha Imagem
Parentes e amigos acompanham o enterro de Érica da Silva; a mãe dela não foi ao cemitério porque tem passado mal desde o acidente

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

Érica da Silva, 25, passou a madrugada anterior ao acidente em claro. O filho de um ano e cinco meses não dormiu com problemas respiratórios. Por volta das 14h, deixou sua casa, em Engenheiro Pedreira, para comprar um nebulizador em Nova Iguaçu e tentar amenizar o sofrimento do filho. Foi e voltou de trem. Segundo uma amiga -a última a vê-la com vida-, entrou no primeiro vagão do trem com o aparelho na mão, ansiosa para poder usá-lo. Não conseguiu. Érica foi uma das oito vítimas do acidente de trem de anteontem. Ela completou o ensino médio, era casada havia seis anos e não trabalhava para se dedicar integralmente ao filho. "Ela tinha qualificação, mas, para cuidar bem do marido e do menino, abriu mão de seus sonhos de independência financeira. Era feliz. Agora, é cercar a criança de carinho. Ela chora e chama pela mãe o tempo todo", desabafou Ana Paula de Lima, 29, prima da dona-de-casa. Érica era fã do cantor sertanejo Daniel. "Ela fazia parte do fã-clube do cantor e já tinha viajado várias vezes a São Paulo para assistir a shows dele. Vai ficar difícil ouvir uma canção dele agora", lamentou a prima. O enterro de Érica reuniu ontem cerca de 150 pessoas. André da Silva, irmão de Érica, disse que a mãe, Elza Ferreira da Silva, 64, não foi ao cemitério porque estava passando mal desde que soube do acidente. "Quando ela viu pela TV, teve certeza de que a Érica tinha morrido. Nós a levamos ao hospital e depois fomos a vários hospitais procurar a minha irmã. Minha mãe não queria que ela fosse, porque estava desde cedo com um aperto no coração, um pressentimento. Ela queria levar a criança, que só mama no peito, mas minha mãe a convenceu a deixá-la em casa."
Filho único
Filho único, Renan Pedrosa Moreira, 18, era funcionário do setor de manutenção da indústria de produtos alimentícios Granfino, em Nova Iguaçu. Para se aperfeiçoar, Moreira freqüentava um curso de técnicas de manutenção e de equipamentos no Senai de Nova Iguaçu. Quinta-feira, dia do acidente, Moreira, que era solteiro e morava em Engenheiro Pedreira com os pais, se instalou no primeiro vagão do trem, mas não conseguiu chegar em casa. Seu pai, Gilson Moreira, estava desesperado. "É muito difícil. Renan era muito inteligente, dedicado e tinha um futuro promissor. Era seu primeiro emprego. Rapaz tranqüilo, pensava muito no futuro. Eu e minha mulher não nos conformamos. O normal da vida é os filhos enterrarem os pais, e não o contrário." O enterro de Renan está marcado para as 10h de hoje, no cemitério de Queimados, também na Baixada Fluminense.
Colaborou MALU TOLEDO

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