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Metrô vai ao exterior contra linha 4 mais cara
Empresa recorrerá a comitê internacional de arbitragem para evitar pagamento extra; empreiteiras pediram R$ 180 mi
Junta técnica que avaliou divergência sugeriu, de forma discreta, ter havido um encarecimento da obra e recomendou consenso
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Metrô decidiu recorrer a
uma comissão internacional de
arbitragem para tentar evitar
um pagamento extra reivindicado pelas empreiteiras da linha 4 -a mesma onde um acidente deixou sete mortos em
janeiro na estação Pinheiros.
A posição foi notificada ao
Consórcio Via Amarela na última segunda-feira, depois de
um parecer entregue neste mês
por um comitê técnico -que,
segundo a Folha apurou, foi
visto como desfavorável ao Metrô ao sugerir ter havido um
encarecimento da obra.
As construtoras já confirmaram, há quatro meses, que pleiteiam um acréscimo próximo
de R$ 180 milhões, quase 10%
do custo da linha 4 aos cofres
públicos -que, atualizado, beira hoje R$ 2,028 bilhões.
As reivindicações feitas pelo
consórcio se devem principalmente à mudança no método
construtivo da obra, autorizada
pela diretoria do Metrô em
2005, embora fosse contestada
por especialistas e alvo de divergências inclusive internas.
Ela se refere a um período
anterior à abertura da cratera
em Pinheiros, a qual provocou
novos atrasos e transtornos e
que ainda poderá suscitar novas disputas de custo da linha.
O pleito do consórcio de pagamento adicional passou a ser
avaliado por uma comissão
prevista em contrato em razão
da falta de acordo com o Metrô.
Integrantes da Junta de Revisão de Litígios avaliaram que
houve uma elevação dos custos
da linha 4, embora essa análise
tenha sido embutida no relatório de forma discreta, sem fixar
valores (que, na avaliação de ao
menos uma parte do comitê,
passaria de R$ 120 milhões).
O parecer recomendou que
as partes busquem um consenso sobre a diferença dos preços
e a forma de pagamento. O Metrô não permitiu acesso da Folha ao documento.
A junta é formada por um
técnico indicado pela companhia, outro pelas empreiteiras
e um presidente escolhido por
ambos. Eles não podem ter vinculação direta com as partes.
Sem perspectiva de acordo
depois do novo relatório, a direção do Metrô notificou os representantes do Via Amarela
(formado por Odebrecht, OAS,
Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) sobre
a decisão de encaminhar a divergência para uma comissão
internacional de arbitragem.
A avaliação será feita na Uncitral, uma comissão das Nações Unidas para discutir leis
de comércio internacional.
O encarecimento da linha 4 é
alvo de polêmica não só pelas
modificações feitas como pelo
modelo do contrato defendido
de forma árdua pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) e conhecido como "turn key" (chave na
mão, numa tradução livre).
Em tese, ele dá mais autonomia às empreiteiras para que
respondam por todas as fases
da construção e assumam seus
riscos com um "preço fechado".
Os críticos alegam que essa
contratação fragiliza a fiscalização do Estado. Os defensores
alegam que seria uma forma de
evitar a elevação de preços.
A alteração do método construtivo da linha 4 foi definida
pela diretoria do Metrô mesmo
com a contrariedade de membros da cúpula da companhia.
Com ela, em vez de encomendar dois "shield" (conhecido como "tatuzão") para escavações, conforme previa o contrato, as construtoras foram
autorizadas a comprar só um.
O restante seria feito em
NATM, que usa retroescavadeira e explosivos para perfurar
as rochas. Seria uma forma de
contornar dificuldades para a
máquina passar em determinada profundidade no solo e de
evitar mais atrasos.
Uma das polêmicas da alteração era a de que, com o shield,
há menos riscos na obra -que
já foi alvo de uma série de acidentes. A outra era de que ela
favoreceria as empreiteiras devido ao fato de elas terem que
pagar só um tatuzão, e não dois.
Mesmo assim, a modificação
foi autorizada e, diferentemente do que se afirmava, as construtoras alegam que houve encarecimento da obra.
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