São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Construtoras criam obras de R$ 15,6 bi para vender a SP

Plano viário tem 200 propostas para "servir de orientação" aos candidatos à prefeitura

Pacote abrange túneis, pontes, viadutos e avenidas; para especialistas, sugestões contrariam prioridade ao transporte coletivo


ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas das principais construtoras do país criaram um plano de 200 obras viárias na cidade de São Paulo, ao custo estimado de R$ 15,6 bilhões, com a ambição de "servir de orientação às equipes dos candidatos" à prefeitura e de influenciar as decisões do poder público nos próximos anos.
Tratado como um banco de projetos para atenuar os gargalos do trânsito, abrange intervenções polêmicas, como a construção de um complexo de R$ 884 milhões com túneis no Morumbi e outro de R$ 254 milhões entre a rodovia Raposo Tavares e a marginal Pinheiros.
A estratégia do estudo contratado pelo sindicato que reúne as empreiteiras no Estado, na prática, é deixar as sugestões na prateleira para acelerar a tomada de decisões por novas obras de interesse direto da indústria da construção pesada.
O plano das construtoras é intitulado "São Paulo por um trânsito melhor". Na avaliação de cinco especialistas ouvidos pela Folha, a proposta de expansão da malha viária principalmente voltada para os carros vai na contramão da necessidade de restrição ao transporte individual e de prioridade ao coletivo.
Embora haja propostas de corredores e terminais de ônibus, a dimensão de investimentos direcionada para essa área se limita a 28% do total.
O custo para tirar todas as obras do papel é suficiente para construir de 80 a 100 km de metrô, o que mais que dobraria a rede atual, de 61,3 km.
O Sinicesp (sindicato da construção pesada), contratante do estudo, tem em sua diretoria representantes de empreiteiras como OAS, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. Na semana passada, já começou a contatar as equipes dos principais candidatos a prefeito para agendar a entrega do plano.
Técnicos entrevistados consideram que, no trabalho, há obras defensáveis, embora insuficientes para compensar a entrada superior a mil novos veículos por dia nas ruas. E avaliam ser grande a possibilidade de as apostas das construtoras serem usadas como diretrizes no município.
Primeiro, devido ao apelo popular que, desde as últimas décadas, estimula a realização de intervenções favoráveis aos carros -apesar das críticas. Segundo, pela falta de projetistas do município e pelo poder de influência das empreiteiras, segmento que costuma financiar campanhas eleitorais de diversos partidos.
Profissionais ligados ao Executivo e às construtoras relatam que algumas das principais obras viárias já feitas ou em discussão foram precedidas de sugestões das próprias empresas. Ou seja, a iniciativa das empreiteiras de propor as intervenções de seu interesse sempre existiu, mas nunca de forma tão ampla e detalhada.


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