São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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EFEITO COLATERAL

Decisão da fabricante de suspender venda de medicamento foi recebida com surpresa e perplexidade

Vioxx deixa "órfãos" entre médicos e usuários

DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos e pacientes reagiram ontem com perplexidade à notícia de retirada do medicamento Vioxx do mercado mundial. Utilizado em várias áreas da saúde -da odontologia à proctologia e ginecologia-, o remédio era até ontem o antiinflamatório mais vendido no país.
"O que vamos fazer agora?", questionava incrédula a proctologista Margareth da Rocha Fernandes, do Hospital do Servidor Estadual e integrante da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, que tinha até ontem vários pacientes utilizando o remédio no tratamento de hemorróidas e trombose e no pós-operatório.
Já a empresária paulista Priscila Sérvulo, 34, que usa o remédio contra cólicas menstruais, especialmente no primeiro e segundo dia da menstruação, está preocupada em descobrir um substituto para o Vioxx, indicado dois anos atrás por seu ginecologista. "Era o único remédio que mantinha na bolsa. Ao sentir as primeiras pontadas, tomava dois comprimidos por dia porque era a única coisa que cortava a dor. Sinto-me órfã."
A aceitação do produto pelos pacientes também ocorre na classe médica. Ibsen Coimbra, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Reumatologia, que, como pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que participou em 1999 dos estudos brasileiros sobre o uso do medicamento no Brasil, se mostrou surpreso com o anúncio.
Segundo o médico, a vantagem do remédio era provocar menos efeitos colaterais gástricos. Na reumatologia, era utilizado principalmente no tratamento de artrose, artrite reumatóide, bursites e tendinites. Coimbra recomenda que os pacientes interrompam o uso do Vioxx e procurem o seu médico para receber orientações sobre a troca do produto.
Há no mercado pelo menos três outros antiinflamatórios da mesma classe do Vioxx, com princípios ativos diferentes, segundo o reumatologista. "Não há motivo para alarme. Os riscos só existem em situações de uso contínuo. A grande maioria das pessoas só utiliza o remédio em casos de dores agudas e por poucos dias."
Para Antonio Carlos Loés, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, o impacto da retirada do Vioxx do mercado será quase nulo para os pacientes. "Ele é perfeitamente substituível por outros com o mesmo princípio de ação e até com menos efeito colateral", afirma.
Mas o advogado Milton Ramos, 46, ficou surpreso. Na semana passada, ele fez uma cirurgia de implante dentário e ontem tomou o último comprimido de Vioxx, por recomendação da dentista. "Levei um susto quando vi a notícia na internet", afirmou.
(CLÁUDIA COLLUCCI)


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