São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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VIOLÊNCIA

Corpos foram encontrados pelos dois filhos; casa, na zona sul de São Paulo, não tinha sinais de arrombamento

Casal é morto a pancadas em bairro nobre

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um casal morto a pancadas e depois colocado na cama, a casa sem sinais de arrombamento, o alarme e o sistema interno de televisão desligados. Assim a polícia encontrou ontem a cena do crime ocorrido no número 232 da rua Zacarias de Góis, no Brooklin, uma área nobre na zona sul de São Paulo.
Os corpos do engenheiro Manfred Albert von Richthofen, 49, alemão naturalizado brasileiro e diretor da Dersa (estatal que administra estradas de São Paulo), e da mulher dele, a psiquiatra Marísia von Richthofen, 49, foram encontrados pelos dois filhos do casal por volta das 4h de ontem, segundo a polícia.
Richthofen estava na cama do quarto do casal, com um toalha branca no rosto. Marísia estava ao seu lado, com um saco plástico preto de lixo na cabeça. Os dois, segundo a polícia, não foram assassinados na cama.
Manchas encontradas na parede do quarto levam a polícia a acreditar que os dois teriam recebido pancadas na cabeça quando estavam de joelhos, próximos da parede. Depois disso, eles teriam sido arrastados para a cama. Ainda não se sabe qual objeto foi usado para aplicar os golpes.
A polícia encontrou ainda um revólver calibre 38 ao lado da cama, próximo de Richthofen. A filha do casal, a estudante Suzane, 18, confirmou à polícia que a arma era de seu pai.
O revólver, que tinha cinco balas intactas, não foi usado, segundo a polícia. "Um ladrão que rouba uma casa geralmente não deixa uma arma para trás", disse o delegado do 27º DP (Campo Belo), Enjolras Rello de Araújo.
Segundo Araújo, Suzane e outro filho do casal, o estudante Andreas, 15, saíram de casa por volta das 21h de anteontem. Suzane deixou Andreas em um cibercafé e saiu com o namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, 21, que também mora na região.
Os irmãos teriam se reencontrado no cibercafé e voltado para casa. Suzane e Andreas contaram a policiais do 27º DP que eles chegaram por volta das 4h e encontraram a porta aberta e luzes da casa acesas. A filha teria então telefonado para o namorado, que voltou à casa, e depois para a Polícia Militar.
Os PMs encontraram a biblioteca revirada e os corpos no quarto do casal, que fica no andar de cima da casa. Suzane informou aos policiais que foram levados cerca de US$ 5.000 e de R$ 8.000.
O dinheiro estava em uma caixa na biblioteca da casa e era, segundo o que informou Suzane à polícia, sobra de uma viagem da família ao Exterior.
Segundo o delegado, o alarme e o circuito interno de televisão haviam sido desligados. Araújo disse que os filhos informaram à polícia que o sistema estava em desuso porque apresentava problemas e precisava de conserto.
A casa também não apresentava sinais de arrombamento, segundo o delegado. "A possibilidade mais forte é de latrocínio [roubo seguido de morte], mas nenhuma hipótese é descartada nessa investigação", disse Araújo.

Perícia
A polícia não encontrou testemunhas do crime. Peritos do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) vistoriaram o local ontem. Vestígios de digitais foram coletadas no quarto do casal.
Suzane, Andreas, Daniel e mais dois funcionários da família foram ouvidos ontem por policiais do DHPP. A polícia não tem pistas dos autores do crime, mas acredita que o assassinato foi cometido por pessoas que conheciam o local e as vítimas.
Um tio de Richthofen, que se identificou apenas como Helmut, 84, também alemão, foi à casa da família depois de saber do crime pela televisão. "Ele era o meu único parente no Brasil", afirmou Helmut. "Apesar de tudo, eu amo este país."
A rua Zacarias de Góis não registra um caso de latrocínio ou homicídio desde 1995, segundo dados do Infocrim (base de dados informatizada de ocorrências), da Polícia Civil. No período, o único roubo registrado na rua ocorreu em 1999.


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