São Paulo, domingo, 1 de novembro de 1998

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Pai Distante

"Não gosto de estudar, acho que vou repetir de ano, dou porrada em moleques da escola porque eles me faltam com respeito, já fui suspenso, só apronto. Sei que dou trabalho para minha mãe. Mas sou fechado, não tenho muito assunto com ela. Quando estou com algum problema e tenho que conversar com alguém, procuro meus amigos. Ela é professora de inglês e trabalha o dia todo para sustentar a casa. Fico muito sozinho. Meu pai se separou da minha mãe antes de eu nascer e está trabalhando como taxista nos Estados Unidos. Falo com ele por telefone, mas só o vejo uma ou duas vezes por ano. Sinto falta dele quando vejo meus amigos indo com os pais para o estádio de futebol.
A distância não deixa que ele resolva nada na minha vida. Talvez isso tenha algum peso no fato de eu ser meio bagunceiro, pavio curto. Eu e minha mãe estamos indo numa psicóloga a pedido da escola.
Falo com minha mãe só para pedir que ela compre material, que ela deixe eu sair. Ela até é compreensiva, mas eu me fecho. Minhas irmãs, de 16 e 17 anos, são diferentes. Elas são mais educadas, vão bem na escola e são mais amigas da minha mãe. Elas têm mais responsabilidade, se espelham mais na minha mãe.
Agora, pela primeira vez, estou começando a me forçar a estudar. Resolvi fazer cursinho junto com a escola. Quero cursar alguma coisa relacionada a telecomunicações. Quero ganhar dinheiro, ser independente. Mas não quero casar.
Daniel D. , 16, estudante


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