São Paulo, domingo, 1 de novembro de 1998

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OUTONO DO PATRIARCA
Segundo estudo da Febem e da USP, em 48% dos casos, mãe conduz família porque pai abandonou o lar
Mulher chefia 50% das
famílias de infratores

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

As mães são chefes em metade das famílias de jovens infratores recolhidos a unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), em São Paulo.
Esse é um dos resultados de pesquisa financiada pelo Ministério da Justiça e realizada em conjunto pela Febem e pela Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), concluída no segundo semestre deste ano.
O estudo mostra que, nessas famílias de infratores dirigidas por mulheres, 13% são conduzidas por mulheres sozinhas e 37% contam com novos maridos ou familiares. Foram ouvidas 292 famílias de infratores, em São Paulo.
"O levantamento revela que há uma diminuição da presença do pai na família", diz a socióloga Rosane Silva Vianna, da Assessoria de Planejamento da Febem.
Os dados do estudo revelam que o principal motivo da transmissão para a mulher da responsabilidade de condução da família é o abandono do lar pelo pai: 48% dos casos. O levantamento levou em consideração situações como, por exemplo, morte do marido.
No entanto Rosane não atribui exclusivamente à falta do pai a transformação do jovem em infrator. "A infração está ligada à sociedade de consumo. O jovem de classe baixa, que não consegue comprar, pode roubar."
Ela aponta o desemprego como um fator que pode "fragilizar" a figura do pai. De acordo com o estudo, o percentual de infratores com pais desempregados passou de 2,3% para 17% no último ano.
Para o presidente da Febem, Eduardo Roberto Domingues da Silva, a "figura do pai foi se tornando distanciada".
"Não tendo o limite que deveria ser imposto pelo pai, a vida do jovem fica menos disciplinada. Mas isso não quer dizer que todos os adolescentes que contam com o pai possam estar livre disso (da indisciplina)", afirma Silva.
Segundo Rosane, o fato de o jovem ter se tornado infrator não está associado a uma desestruturação familiar.
"A maioria das famílias entrevistadas de jovens infratores é pobre (ganha em torno de cinco salários mínimos), mas não é miserável, possui casa própria e mora em lugar com infra-estrutura de água, esgoto e iluminação", diz Silva.



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