|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pesquisa liga pai ausente
e delinquência
da Sucursal de Brasília
A ausência da figura paterna na
formação das crianças vem sendo
apontada nos EUA como um dos
fatores determinantes dos dois
maiores problemas sociais do país:
criminalidade e pobreza.
Do aumento da delinquência juvenil e da gravidez na adolescência
ao mau desempenho acadêmico
de crianças criadas só pela mãe, a
ausência do pai virou "bode expiatório" predileto de pesquisadores sociais para explicar o que
há de errado com os jovens americanos.
Crianças que crescem sem o pai
têm seis vezes mais chances de viverem na pobreza. Também são
mais propensas a repetir o ano na
escola, a abandonar os estudos antes dos 18 anos, a cometer atos infracionais e a engravidar na adolescência.
Os dados foram coletados pelo
Departamento da Saúde do governo norte-americano nos últimos
dois anos, durante encontros com
sociólogos, psicólogos, advogados
e assistentes sociais especializados
em família.
Segundo James Levine, diretor
do Fatherhood Project de Nova
York e consultor do governo norte-americano, a ausência paterna é
parcialmente responsável por todos os problemas descritos acima.
"Claro que, de vez em quando,
há um certo exagero na hora de
atribuir o peso da ausência paterna nesses problemas. Mas é consenso que crianças que crescem
sem nenhum contato com o pai
são muito mais vulneráveis do que
as que crescem com pai e mãe. Só é
preciso cuidado para não generalizar. Nem todo menino que cresce
longe do pai vai virar delinquente", pondera.
Releitura
Embora hoje seja unanimidade
que o pai exerce um papel marcante na formação dos filhos nos
EUA, nem sempre foi assim.
No início da década passada, as
mesmas universidades que hoje
abrigam os centros de estudo sobre os males da ausência paterna
lançaram pesquisas apontando
que os filhos que cresciam sem pai
não apresentavam diferenças significativas de desenvolvimento.
Em 82, por exemplo, a psicóloga
Charlotte Patterson, da Universidade da Virgínia, apresentou pesquisa com 1.500 crianças em que
concluiu que "elas não precisam
de um pai para se desenvolverem
normalmente". O trabalho de
Patterson ficou popular sobretudo
porque surgiu na época do
"boom" dos divórcios nos EUA.
"Mas tudo isso mudou. Os estudos daquela época foram desmoralizados por outros mais recentes
e mais consistentes", disse Levine
à Folha.
"Psicólogos, neurologistas e sociólogos mostraram que pai e mãe
têm papéis muito diferentes na
formação da criança desde os primeiros dias de vida. Por isso, ambos são indispensáveis."
As mães falam mais com os bebês, enquanto os pais preferem
brincar. "Essa brincadeira meio
grosseirona é fundamental para a
criança aprender a controlar seus
instintos agressivos. Também ajuda muito na socialização", afirmou Levine.
A advogada Meredith Wiley, autora de "Ghosts from the Nursery
- Tracing the Roots of Violence"
(em português, "Fantasmas no
Berçário - Rastreando as Raízes da
Violência") passou dois anos levantando a história de adolescentes infratores no Estado de Oregon
e concluiu que, depois da pobreza,
o fator que mais influencia a delinquência juvenil é a falta do pai.
"Como a maioria das mães solteiras é de classe baixa, fica difícil
separar o que é causado pela pobreza e o que é causado pela falta
do pai. Mas é claro que os dois fatores são responsáveis pelo alto índice de delinquência", diz Wiley.
(DANIELA FALCÃO)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|