São Paulo, domingo, 1 de novembro de 1998

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Pesquisa liga pai ausente
e delinquência

da Sucursal de Brasília

A ausência da figura paterna na formação das crianças vem sendo apontada nos EUA como um dos fatores determinantes dos dois maiores problemas sociais do país: criminalidade e pobreza.
Do aumento da delinquência juvenil e da gravidez na adolescência ao mau desempenho acadêmico de crianças criadas só pela mãe, a ausência do pai virou "bode expiatório" predileto de pesquisadores sociais para explicar o que há de errado com os jovens americanos.
Crianças que crescem sem o pai têm seis vezes mais chances de viverem na pobreza. Também são mais propensas a repetir o ano na escola, a abandonar os estudos antes dos 18 anos, a cometer atos infracionais e a engravidar na adolescência.
Os dados foram coletados pelo Departamento da Saúde do governo norte-americano nos últimos dois anos, durante encontros com sociólogos, psicólogos, advogados e assistentes sociais especializados em família.
Segundo James Levine, diretor do Fatherhood Project de Nova York e consultor do governo norte-americano, a ausência paterna é parcialmente responsável por todos os problemas descritos acima.
"Claro que, de vez em quando, há um certo exagero na hora de atribuir o peso da ausência paterna nesses problemas. Mas é consenso que crianças que crescem sem nenhum contato com o pai são muito mais vulneráveis do que as que crescem com pai e mãe. Só é preciso cuidado para não generalizar. Nem todo menino que cresce longe do pai vai virar delinquente", pondera.

Releitura

Embora hoje seja unanimidade que o pai exerce um papel marcante na formação dos filhos nos EUA, nem sempre foi assim.
No início da década passada, as mesmas universidades que hoje abrigam os centros de estudo sobre os males da ausência paterna lançaram pesquisas apontando que os filhos que cresciam sem pai não apresentavam diferenças significativas de desenvolvimento.
Em 82, por exemplo, a psicóloga Charlotte Patterson, da Universidade da Virgínia, apresentou pesquisa com 1.500 crianças em que concluiu que "elas não precisam de um pai para se desenvolverem normalmente". O trabalho de Patterson ficou popular sobretudo porque surgiu na época do "boom" dos divórcios nos EUA.
"Mas tudo isso mudou. Os estudos daquela época foram desmoralizados por outros mais recentes e mais consistentes", disse Levine à Folha.
"Psicólogos, neurologistas e sociólogos mostraram que pai e mãe têm papéis muito diferentes na formação da criança desde os primeiros dias de vida. Por isso, ambos são indispensáveis."
As mães falam mais com os bebês, enquanto os pais preferem brincar. "Essa brincadeira meio grosseirona é fundamental para a criança aprender a controlar seus instintos agressivos. Também ajuda muito na socialização", afirmou Levine.
A advogada Meredith Wiley, autora de "Ghosts from the Nursery - Tracing the Roots of Violence" (em português, "Fantasmas no Berçário - Rastreando as Raízes da Violência") passou dois anos levantando a história de adolescentes infratores no Estado de Oregon e concluiu que, depois da pobreza, o fator que mais influencia a delinquência juvenil é a falta do pai.
"Como a maioria das mães solteiras é de classe baixa, fica difícil separar o que é causado pela pobreza e o que é causado pela falta do pai. Mas é claro que os dois fatores são responsáveis pelo alto índice de delinquência", diz Wiley. (DANIELA FALCÃO)



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