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Para governador, culpa por tragédia foi só da chuva
Luiz Henrique participou de show para arrecadar água e cobertor para as vítimas da chuva
"Todo dia eu acordava, olhava pela janela, [estava] chovendo e eu dizia: "Meu Deus, será que Santa Catarina vai virar Macondo?"
TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira
(PMDB), atribuiu ontem apenas à "chuva constante" a responsabilidade pelos mais de
cem mortos e mais de 78 mil
desabrigados no Estado. Segundo ele, as casas que desabaram nas cidades catarinenses
mais atingidas pelas enchentes
não estavam em áreas de risco.
A afirmação foi feita ontem,
durante o show "SOS Santa Catarina" promovido pela "TV
Cultura" para arrecadar mantimentos e cobertores para as vítimas das enchentes, após ele
ser questionado pela Folha sobre o porquê de apenas uma cidade do Estado ter mapeamento de áreas de risco.
"As regiões onde houve esse
deslizamento eram ocupadas
tranqüilamente há décadas.
Nunca foram áreas de risco. Os
deslizamentos ocorreram em
regiões de alta densidade de vegetação, de cobertura vegetal.
Morros de mata virgem desabaram e isso ocorreu porque
choveu continuamente [por]
quatro meses", disse.
"Todo dia eu acordava, olhava pela janela, [estava] chovendo e eu dizia: "Meu Deus, será
que Santa Catarina vai virar
Macondo?", referindo-se ao romance "Cem Anos de Solidão",
do colombiano Gabriel García
Márquez, no qual a cidade fictícia de Macondo desaparece
após uma chuva interminável.
De acordo com especialistas
ouvidos pela Folha durante a
semana passada, embora o volume de chuvas tenha sido surpreendente, a principal causa
da tragédia foi a ocupação irregular das áreas atingidas.
Para os técnicos, se houvesse
um maior controle da ocupação urbana das encostas e margens de rios, principalmente
após o mapeamento das áreas
de risco, o número de mortes
teria sido menor mesmo que
ocorressem deslizamentos.
Luiz Henrique esteve no
show acompanhado do governador de São Paulo, José Serra
(PSDB), do prefeito de São
Paulo, Gilberto Kassab (DEM),
e de prefeitos de cinco cidades
catarinenses, entre elas Ilhota,
Blumenau e Itajaí, algumas das
mais atingidas. Ele agradeceu a
ajuda dos governos estaduais e
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ao Estado.
Praias
Preocupado com o impacto
da tragédia no turismo, Luiz
Henrique ressaltou ainda que
as praias do Estado não foram
atingidas pelas chuvas e que os
turistas que tiverem comprado
pacotes para o verão podem
confirmar as viagens.
De acordo com a Defesa Civil
de São Paulo, 2.500 pessoas
compareceram ontem ao show
no Anhembi, que contou com a
presença de 14 artistas como
Lecy Brandão, Ed Mota, Chico
César e Yamandú Costa.
Para entrar, era necessário
levar uma garrafa de água mineral e um cobertor, mas a
maioria dos participantes também doou alimentos e roupas.
Segundo a Defesa Civil de
São Paulo, foram arrecadados
6.000 litros de água, sete toneladas de alimentos e 13 mil peças de roupas.
Caravanas de várias partes da
cidade e de municípios vizinhos estiveram no evento. A caravanista Isair Monteiro Santos, 57, organizou a ida de 35
pessoas de Osasco. Juntos, eles
levaram, diz ela, cerca de 300
quilos de alimentos, produtos
de higiene pessoal, água, leite,
roupas, sapatos e cobertores.
"A gente vê na televisão, a situação está crítica. Pretendemos continuar a arrecadar enquanto precisar", disse.
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