São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Para governador, culpa por tragédia foi só da chuva

Luiz Henrique participou de show para arrecadar água e cobertor para as vítimas da chuva

"Todo dia eu acordava, olhava pela janela, [estava] chovendo e eu dizia: "Meu Deus, será que Santa Catarina vai virar Macondo?"

TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), atribuiu ontem apenas à "chuva constante" a responsabilidade pelos mais de cem mortos e mais de 78 mil desabrigados no Estado. Segundo ele, as casas que desabaram nas cidades catarinenses mais atingidas pelas enchentes não estavam em áreas de risco.
A afirmação foi feita ontem, durante o show "SOS Santa Catarina" promovido pela "TV Cultura" para arrecadar mantimentos e cobertores para as vítimas das enchentes, após ele ser questionado pela Folha sobre o porquê de apenas uma cidade do Estado ter mapeamento de áreas de risco.
"As regiões onde houve esse deslizamento eram ocupadas tranqüilamente há décadas. Nunca foram áreas de risco. Os deslizamentos ocorreram em regiões de alta densidade de vegetação, de cobertura vegetal. Morros de mata virgem desabaram e isso ocorreu porque choveu continuamente [por] quatro meses", disse.
"Todo dia eu acordava, olhava pela janela, [estava] chovendo e eu dizia: "Meu Deus, será que Santa Catarina vai virar Macondo?", referindo-se ao romance "Cem Anos de Solidão", do colombiano Gabriel García Márquez, no qual a cidade fictícia de Macondo desaparece após uma chuva interminável.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha durante a semana passada, embora o volume de chuvas tenha sido surpreendente, a principal causa da tragédia foi a ocupação irregular das áreas atingidas.
Para os técnicos, se houvesse um maior controle da ocupação urbana das encostas e margens de rios, principalmente após o mapeamento das áreas de risco, o número de mortes teria sido menor mesmo que ocorressem deslizamentos.
Luiz Henrique esteve no show acompanhado do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e de prefeitos de cinco cidades catarinenses, entre elas Ilhota, Blumenau e Itajaí, algumas das mais atingidas. Ele agradeceu a ajuda dos governos estaduais e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Estado.

Praias
Preocupado com o impacto da tragédia no turismo, Luiz Henrique ressaltou ainda que as praias do Estado não foram atingidas pelas chuvas e que os turistas que tiverem comprado pacotes para o verão podem confirmar as viagens.
De acordo com a Defesa Civil de São Paulo, 2.500 pessoas compareceram ontem ao show no Anhembi, que contou com a presença de 14 artistas como Lecy Brandão, Ed Mota, Chico César e Yamandú Costa.
Para entrar, era necessário levar uma garrafa de água mineral e um cobertor, mas a maioria dos participantes também doou alimentos e roupas.
Segundo a Defesa Civil de São Paulo, foram arrecadados 6.000 litros de água, sete toneladas de alimentos e 13 mil peças de roupas.
Caravanas de várias partes da cidade e de municípios vizinhos estiveram no evento. A caravanista Isair Monteiro Santos, 57, organizou a ida de 35 pessoas de Osasco. Juntos, eles levaram, diz ela, cerca de 300 quilos de alimentos, produtos de higiene pessoal, água, leite, roupas, sapatos e cobertores.
"A gente vê na televisão, a situação está crítica. Pretendemos continuar a arrecadar enquanto precisar", disse.


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