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FORA DOS TRILHOS
Serviço foi encerrado ontem por causa dos atrasos e das tarifas mais baixas das companhias aéreas
Sem glamour, Trem de Prata é desativado
FABIO SCHIVARTCHE
enviado especial ao Rio
O Trem de Prata parou. Eram
7h31 de ontem. Sobre os velhos
dormentes da estação Barão de
Mauá, na zona norte do Rio, ficaram a locomotiva e os oito vagões
prateados da década de 40. Na plataforma, 110 desempregados, algumas dívidas e nenhum glamour.
Em sua última viagem, entre a
Barra Funda (zona oeste de São
Paulo) e a estação Mauá, conhecida como Leopoldina, pouco restava da pompa com que foi inaugurado, em dezembro de 1994 -em
substituição ao antigo trem de aço
da Rede Ferroviária Federal, o
Santa Cruz, desativado em 1991.
"Quando entrei no vagão, senti
cheiro de mofo", disse a fisioterapeuta Margareth Ferreira Fonseca,
fluminense de Nova Iguaçu. "Me
decepcionei. Vim esperando algo
mais chique. Tive vontade de pedir
meu dinheiro de volta e pegar a
ponte aérea."
Se optasse pelo avião, Margareth
teria economizado. Para ir de
trem, uma viagem de dez horas
com direito a jantar e café da manhã, gastou R$ 120 (cabine mais
barata). Teria gasto R$ 82 na ponte
aérea (viagem de 50 minutos).
Rapidez nunca foi um dos motivos pelos quais os passageiros optavam pelo Trem de Prata. "As
pessoas buscavam resgatar o romantismo do trem, mas os atrasos
passavam de cinco horas nos últimos tempos. E daí não tem glamour que resista", contou o barman Tom de Carvalho, que já rodou mais de 268 mil km pela composição desde 1994.
Os atrasos vinham ocorrendo
porque o Trem de Prata perdeu a
prioridade para o uso da linha,
que é compartilhada com trens de
carga. Quando esses quebram ou
descarrilam, provocam atrasos em
toda a linha.
Com esses atrasos e com os preços mais baixos das companhias
aéreas e dos ônibus rodoviários, o
trem perdeu seus passageiros cativos. Quando reativado, em 94, tinha capacidade para 124 passageiros. Em dois anos, caiu para 76.
Ontem, o trem estava lotado,
mas só porque era a última viagem. No segundo semestre deste
ano, o trem estava saindo, em média, com apenas 30% de sua capacidade, em dias de semana.
"Não quis perder a última oportunidade de viajar no Trem de
Prata", afirmou Cleide Dreguer,
paulistana da Penha que, ao chegar ao Rio, ontem de manhã, pegou um táxi para o aeroporto Santos Dumont para voltar a São Paulo. "Viemos viver um clima romântico, mas não vimos o luxo
prometido", disse o aposentado
Walter Dreguer, casado há 34 anos
com Cleide.
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