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OPINIÃO
Taxa de lixo em SP
WERNER ZULAUF
A Constituição de 1988, promulgada na véspera do colapso dos
países socialistas, ao entrar em vigor, já estava na contramão da
conjuntura mundial, que foi invadida pela ideologia hegemônica do
capitalismo. Além desse desvio em
relação à história, a circunstância
de ser um documento novo incorporou uma série de contradições e
dispositivos divorciados da realidade do dia-a-dia das nações.
A taxa de limpeza pública sempre foi cobrada com o IPTU. Antes, podia. Agora, não pode, porque contraria o artigo 145 (inciso
2º e parágrafo 2º) da "cidadã",
que estabelece a especificidade e a
divisibilidade dos serviços prestados para cobrança de taxa e proíbe
a cobrança com a mesma base de
cálculo de imposto, como a Taxa
de Limpeza Pública e o IPTU.
Há dez anos esse dispositivo
existe. Não produziu nenhuma
ação de inconstitucionalidade
porque o valor era baixo.
Com a queda da inflação e o Brasil entrando na "real", iniciou-se
a busca das verdades tributária e
orçamentária. O resultado foi a
elevação progressiva da Taxa de
Limpeza Pública, para fazer face
ao verdadeiro custo desses serviços, que é de cerca de 10% do Orçamento dos municípios. Aí, começaram as ações que culminaram com o acórdão do STF. Em
consequência, toda a estrutura de
apoio financeiro da limpeza das
cidades desmoronou.
Os técnicos buscam novas fórmulas, mas não conseguem satisfazer o art. 145. Daria, se o lixo de
cada casa fosse pesado sempre que
o caminhão da coleta passasse.
Um absurdo, pela elevação do
custo que isso representaria. E como seria cobrada a varrição de
ruas? O lixo das ruas não tem nada
a ver com a casa ou com o lote.
Algumas cidades adotaram uma
solução criativa, que o Ministério
Público já tratou de torpedear.
Trata-se da cobrança de uma taxa
de limpeza com a conta de água e
esgotos. Equações desenvolvidas
estatisticamente estabeleceriam a
correlação entre um metro cúbico
de água e a correspondente quantidade de lixo, como hoje ocorre
com as tarifas de esgotos e água.
As prefeituras, cada vez menos,
têm condições de subsidiar serviços que deveriam ser auto-sustentáveis. A única forma de resolver
definitivamente a questão é alterar
a Constituição, criando mecanismos mais flexíveis e realistas para
a cobrança de taxas e tarifas.
O esforço para aprovar o ajuste
fiscal deveria incluir a reforma na
conceituação dos tributos referidos. Não é só o elevado custo do
déficit público que inviabiliza a
nação. Dispositivos rígidos e promotores desvinculados da realidade podem quebrar as cidades, o
que acabará quebrando a nação.
Werner Eugênio Zulauf, 62, engenheiro civil e
sanitarista, é secretário municipal do Verde e do
Meio Ambiente de São Paulo e presidente da
Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente. Foi presidente da Cetesb-SP e do Ibama
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