São Paulo, terça, 1 de dezembro de 1998

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CASO DINIZ
Líder do grupo diz que não vai parar a greve de fome para retornar à cadeia; TJ julga hoje redução de pena
'Tenho medo de morrer', diz sequestrador

MALU GASPAR
da Reportagem Local

Um dia antes de ter a redução das suas penas julgadas, o líder dos sequestradores do empresário Abílio Diniz, o argentino Humberto Paz, diz que tem medo de morrer, mas que o grupo não vai parar a greve mesmo que a Justiça lhes dê uma sentença favorável.
Paz falou à Folha ontem por telefone do Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde está internado com outros seis sequestradores.
O grupo, composto por sete homens e uma mulher, completa hoje 15 dias sem comer.
"Todos aqui temos medo de morrer. Mas tomei uma decisão com meus companheiros e pensamos sobre isso por muito tempo. Não suspenderemos a greve até termos liberdade. Não vamos parar tudo para voltar à cadeia."
Falando devagar e com a respiração ofegante, Paz contou que ele e seus companheiros estão muito enfraquecidos e sentindo tonturas cada vez mais fortes.
Ele e os chilenos Sérgio Urtubia e Hector Tapia tiveram "quedas significativas" nos níveis de potássio e todos estão com pouco sódio no organismo, segundo o HC. Essas reações ao jejum prolongado podem causar parada cardíaca.

Julgamento
Paz disse que o grupo não pretende parar a greve de fome se o julgamento de hoje no Tribunal de Justiça confirmar a redução das penas dos sequestradores.
Quando a sessão foi suspensa, na semana passada, dois dos dez desembargadores do tribunal haviam votado pela redução. Mas, se confirmadas, mesmo menores, as novas penas não permitirão que eles sejam soltos.
"Esse resultado não muda nossa situação, mas, se confirmado, pode facilitar ao governo fazer justiça conosco dessa vez", diz.
A decisão de hoje está sendo vista pelo governo federal como a única forma de resolver o caso com rapidez. A expulsão dos chilenos e argentinos e o indulto ao brasileiro Äcondições para o fim da greveÄ não são consideradas, diz o Ministério da Justiça.
Para Paz, os presos têm "mais razão e motivação" nesta greve do que na anterior, que durou 16 dias em abril. "Já temos direito até à liberdade condicional, mas não cumpriram nenhuma das promessas que nos fizeram."
Daquela vez, a greve foi suspensa devido a um compromisso da Vara das Execuções Criminais de São Paulo de julgar em 60 dias os pedidos deles de regime semi-aberto, o que não ocorreu.
Ontem, eles receberam a visita de parlamentares do PT. Formalmente, pediram desculpas ao partido pelo que consideram um "erro político". Às vésperas da eleição presidencial de 89, os presos foram exibidos com camisetas do PT e associados ao partido.



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