São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2004

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DIPLOMACIA

Agentes da PF fotografaram e colheram impressões digitais de cerca de 230 norte-americanos que chegaram ontem

Passageiros dos EUA são "fichados" em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

DA SUCURSAL DO RIO

Cerca de 230 cidadãos norte-americanos que desembarcaram ontem no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, tiveram que se submeter a um procedimento inesperado e, para alguns, humilhante: foram fotografados e tiveram que sujar os dedos para deixar numa ficha suas impressões digitais.
Policiais federais, acostumados a fazer isso com cidadãos suspeitos e bandidos, estavam cumprindo decisão do juiz federal Julier Sebastião da Silva. De acordo com a decisão tomada no dia 29, todo cidadão norte-americano que entrar no Brasil, via portos ou aeroportos, a partir de 1º de janeiro, terá que passar por esse procedimento. Vários deles se mostraram irritados com a medida, disseram agentes da PF.
O juiz acatou ação movida pelo procurador da República José Pedro Taques que exigia do governo brasileiro ação de retaliação contra medidas que os EUA vêm adotando contra turistas brasileiros.
Alegando reforço contra possíveis ações terroristas, Washington passou a exigir que cidadãos de 25 países fossem fotografados e tivessem suas impressões digitais recolhidas ao entrar em território norte-americano.
Na decisão, o juiz Julier da Silva lembrou que os EUA têm todo o direito de impedir a entrada de quem quer que seja em seu território, mas alegou o "princípio da reciprocidade", que dá aos países o direito de fazer o mesmo.
Na prática, para que a decisão do juiz seja cumprida, a Polícia Federal terá que manter um plantão em todos os aeroportos do país que recebam vôos internacionais, o que ainda não aconteceu. Ontem, apenas o de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), estava preparado para cumprir a decisão.
Segundo agentes da PF de plantão ontem em Cumbica, Brasília terá que aumentar o número de agentes se quiser ver a decisão cumprida. Policiais que não se identificaram disseram que os 48 agentes que atuam nos dois terminais de Cumbica não são suficientes para cumprir metade das operações de rotina. Para fichar os norte-americanos, seria necessário aumentar ainda mais esse número. A grande maioria dos vôos internacionais chega a Cumbica pela manhã.
Segundo funcionários, vários passageiros com passaporte norte-americano manifestaram irritação com a medida, mas se mostraram compreensivos depois de informados que cidadãos brasileiros são submetidos ao mesmo ritual quando chegam aos EUA.
Os turistas americanos que chegaram ontem ao Aeroporto Internacional do Rio não foram fichados. Segundo a assessoria de imprensa da Superintendência da PF (Polícia Federal) no Rio, não houve notificação oficial para a mudança no procedimento na chegada de estrangeiros ao país.
Fontes de Brasília disseram que já na quarta-feira o Ministério das Relações Exteriores fez contato com Washington pedindo que o Brasil fosse retirado da lista dos 25 países, tentando evitar constrangimentos aos cidadãos norte-americanos que chegam ao Brasil.
Funcionário do Ministério da Justiça disse que a decisão do juiz Julier Sebastião da Silva pode ser derrubada em breve, uma vez que tal tema não seria de sua competência. A Folha deixou recados ontem nos celulares da assessoria do Ministério da Justiça e da PF, mas não obteve respostas.



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