São Paulo, sábado, 02 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Índice

SILVIA BATTARA BIZZO (1929-2009)

Nas mãos, o último postal enviado pelos pais

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Silvia Battara Bizzo tinha dez anos quando foi passar uma temporada em uma colônia de férias na Itália, onde vivia. Nos dias em que ficaram afastados, recebia postais que os pais lhe escreviam, mandando notícias e falando da saudade que sentiam da filha.
Sugeriram que ela aproveitasse as férias prolongando sua estada na colônia, nos alpes, por mais alguns dias. Silvia, porém, quis voltar para a casa da família, em Veneza. Os pais então lhe enviaram um cartão em que diziam ser aquele o último postal que lhe escreviam, já que iriam buscá-la no dia seguinte. "E de fato foi o último", conta Nelio, filho de Silvia. A caminho da colônia, o casal sofreu um acidente de carro, e ambos morreram. O cartão chegou à garota, já órfã, no dia seguinte. "Ela tinha adoração pelos postais", diz Nelio, que, ao perder a mãe no dia do Natal, em decorrência de uma pneumonia, decidiu enterrá-la tendo nas mãos o último cartão enviado pelos pais.
Silvia foi criada por uma tia e imigrou para o Brasil um mês depois de se casar com Domenico Bizzo, já morto.
Juntos, tiveram Dario, Nelio e a caçula, que herdou o nome da mãe. Já o nome dos mais velhos serviu para que Silvia combinasse as primeiras sílabas e batizasse de Bazar Neda o comércio que abriu no Tatuapé. "Aprendi até a vender sutiã", lembra Nelio sobre quando ajudava a mãe. A língua italiana, que sempre falaram em casa, foi outra coisa que aprendeu e que quer ensinar ao seu quarto filho, que deve nascer neste mês.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.