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SILVIA BATTARA BIZZO (1929-2009)
Nas mãos, o último postal enviado pelos pais
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Silvia Battara Bizzo tinha
dez anos quando foi passar
uma temporada em uma colônia de férias na Itália, onde vivia. Nos dias em que ficaram
afastados, recebia postais que
os pais lhe escreviam, mandando notícias e falando da
saudade que sentiam da filha.
Sugeriram que ela aproveitasse as férias prolongando
sua estada na colônia, nos alpes, por mais alguns dias. Silvia, porém, quis voltar para a
casa da família, em Veneza.
Os pais então lhe enviaram
um cartão em que diziam ser
aquele o último postal que lhe
escreviam, já que iriam buscá-la no dia seguinte. "E de fato foi o último", conta Nelio,
filho de Silvia. A caminho da
colônia, o casal sofreu um acidente de carro, e ambos morreram. O cartão chegou à garota, já órfã, no dia seguinte.
"Ela tinha adoração pelos
postais", diz Nelio, que, ao
perder a mãe no dia do Natal,
em decorrência de uma pneumonia, decidiu enterrá-la
tendo nas mãos o último cartão enviado pelos pais.
Silvia foi criada por uma tia
e imigrou para o Brasil um
mês depois de se casar com
Domenico Bizzo, já morto.
Juntos, tiveram Dario, Nelio e
a caçula, que herdou o nome
da mãe. Já o nome dos mais
velhos serviu para que Silvia
combinasse as primeiras sílabas e batizasse de Bazar Neda
o comércio que abriu no Tatuapé. "Aprendi até a vender
sutiã", lembra Nelio sobre
quando ajudava a mãe. A língua italiana, que sempre falaram em casa, foi outra coisa
que aprendeu e que quer ensinar ao seu quarto filho, que
deve nascer neste mês.
coluna.obituario@uol.com.br
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