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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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SAÚDE

Agência norte-americana que regulamenta medicamentos decidiu que fabricantes terão que alertar as pacientes

FDA aponta risco em terapia hormonal

DA REPORTAGEM LOCAL

A agência norte-americana que regulamenta remédios, a FDA, decidiu que todos os fabricantes dos hormônios estrogênio e progestogênio aplicados na terapia hormonal pós-menopausa devem alertar as pacientes sobre a possibilidade de as drogas causarem câncer de mama invasivo e doenças cardiovasculares.
Na prática, o poderoso órgão apontou, no dia 8 deste mês, que os riscos podem existir em todos os tipos de terapia hormonal com essas substâncias.
As ações da FDA são mais um ataque contra o tratamento depois da "tempestade" criada pelo estudo WHI (Women's Health Initiative), patrocinado pelo ministério da saúde norte-americano e divulgado em julho do ano passado. As recomendações foram feitas a partir dessa pesquisa.
No estudo WHI, realizado com 16 mil mulheres de 50 a 79 anos, uma parte delas recebeu placebo (substância inócua) e a outra, uma combinação "clássica" dos hormônios femininos: estrogênio conjugado equino e acetato de medroxiprogesterona (um progestogênio, progesterona feito em laboratório), ambos por via oral, administrados juntos, ininterruptamente e em doses de 0,625 mg/ dia e 2,5 mg/dia, cada um.
Em julho de 2002, depois de mais de cinco anos de acompanhamento, o "braço" do estudo com a combinação de hormônios foi interrompido antes do previsto porque os riscos apresentados pela terapia, principalmente os de doença cardiovascular e câncer de mama, foram maiores do que os benefícios: houve 41% mais derrames nas mulheres que usavam essa terapia em relação ao grupo que tomou placebo, 29% a mais de ataques cardíacos, o dobro de casos de tromboembolia (coágulos nos vasos), 22% de aumento de doenças cardiovasculares e 26% de aumento de casos de câncer de mama.
A principal novidade do estudo foi o fato de dados terem derrubado a tese de que o tratamento poderia proteger mulheres saudáveis de doenças cardiovasculares.
Boa parte da comunidade médica entendeu que o que estava em xeque era apenas o tipo de terapia testado. A FDA, agora, ampliou a controvérsia. "A FDA está convocando todos os produtores a atualizar seus rótulos com os resultados do estudo WHI, uma vez que acredita-se que todos os produtos com estrogênios e progestogênios têm riscos similares", diz a recomendação do órgão.
A agência também chamou a atenção dos médicos para o fato de não existirem ainda estudos que mostrem quais são as doses mais seguras das drogas.
Para as mulheres que estão na pós-menopausa, a FDA recomenda que, antes de adotarem a terapia, discutam com os médicos se os benefícios superam os riscos. A FDA diz que as drogas devem ser utilizadas por pouco tempo e nas menores doses possíveis.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária brasileira informou que não localizou o gerente de novos medicamentos, Granville Garcia, que seria a "melhor pessoa para falar sobre o assunto".
"Parece mais uma posição cautelosa do órgão", disse o presidente da Comissão Nacional de Climatério da Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), César Eduardo Fernandes.
Segundo ele, como não existem estudos de longo prazo como o WHI sobre outros "esquemas" da terapia (que podem aplicar outras doses, tipos de hormônio, combinações e regimes de administração), o órgão optou por prevenir as pacientes.
Para o especialista, a nova informação deve ser considerada, mas "não há motivo para alarde". "Nada substitui a avaliação criteriosa do médico. É um princípio que vale mais ainda com a TRH (Terapia de Reposição Hormonal), um terreno movediço".
"Parece uma conclusão precipitada", diz Alberto Soares Pereira, presidente dos delegados estaduais da Sociedade Brasileira de Climatério, sobre o informe.
A professora Ceci Mendes Carvalho Lopes, do setor de climatério do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que as recomendações não são uma novidade. "Nossa prática é a de informar a paciente e de tratar cada uma de forma individual."
(FABIANE LEITE E AURELIANO BIANCARELLI)


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