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SAÚDE
Agência norte-americana que regulamenta medicamentos decidiu que fabricantes terão que alertar as pacientes
FDA aponta risco em terapia hormonal
DA REPORTAGEM LOCAL
A agência norte-americana que
regulamenta remédios, a FDA,
decidiu que todos os fabricantes
dos hormônios estrogênio e progestogênio aplicados na terapia
hormonal pós-menopausa devem alertar as pacientes sobre a
possibilidade de as drogas causarem câncer de mama invasivo e
doenças cardiovasculares.
Na prática, o poderoso órgão
apontou, no dia 8 deste mês, que
os riscos podem existir em todos
os tipos de terapia hormonal com
essas substâncias.
As ações da FDA são mais um
ataque contra o tratamento depois da "tempestade" criada pelo
estudo WHI (Women's Health
Initiative), patrocinado pelo ministério da saúde norte-americano e divulgado em julho do ano
passado. As recomendações foram feitas a partir dessa pesquisa.
No estudo WHI, realizado com
16 mil mulheres de 50 a 79 anos,
uma parte delas recebeu placebo
(substância inócua) e a outra,
uma combinação "clássica" dos
hormônios femininos: estrogênio
conjugado equino e acetato de
medroxiprogesterona (um progestogênio, progesterona feito em
laboratório), ambos por via oral,
administrados juntos, ininterruptamente e em doses de 0,625 mg/
dia e 2,5 mg/dia, cada um.
Em julho de 2002, depois de
mais de cinco anos de acompanhamento, o "braço" do estudo
com a combinação de hormônios
foi interrompido antes do previsto porque os riscos apresentados
pela terapia, principalmente os de
doença cardiovascular e câncer de
mama, foram maiores do que os
benefícios: houve 41% mais derrames nas mulheres que usavam
essa terapia em relação ao grupo
que tomou placebo, 29% a mais
de ataques cardíacos, o dobro de
casos de tromboembolia (coágulos nos vasos), 22% de aumento
de doenças cardiovasculares e
26% de aumento de casos de câncer de mama.
A principal novidade do estudo
foi o fato de dados terem derrubado a tese de que o tratamento poderia proteger mulheres saudáveis de doenças cardiovasculares.
Boa parte da comunidade médica entendeu que o que estava em
xeque era apenas o tipo de terapia
testado. A FDA, agora, ampliou a
controvérsia. "A FDA está convocando todos os produtores a atualizar seus rótulos com os resultados do estudo WHI, uma vez que
acredita-se que todos os produtos
com estrogênios e progestogênios
têm riscos similares", diz a recomendação do órgão.
A agência também chamou a
atenção dos médicos para o fato
de não existirem ainda estudos
que mostrem quais são as doses
mais seguras das drogas.
Para as mulheres que estão na
pós-menopausa, a FDA recomenda que, antes de adotarem a terapia, discutam com os médicos se
os benefícios superam os riscos. A
FDA diz que as drogas devem ser
utilizadas por pouco tempo e nas
menores doses possíveis.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária brasileira informou
que não localizou o gerente de novos medicamentos, Granville
Garcia, que seria a "melhor pessoa para falar sobre o assunto".
"Parece mais uma posição cautelosa do órgão", disse o presidente da Comissão Nacional de Climatério da Febrasgo (Federação
Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), César
Eduardo Fernandes.
Segundo ele, como não existem
estudos de longo prazo como o
WHI sobre outros "esquemas" da
terapia (que podem aplicar outras
doses, tipos de hormônio, combinações e regimes de administração), o órgão optou por prevenir
as pacientes.
Para o especialista, a nova informação deve ser considerada, mas
"não há motivo para alarde".
"Nada substitui a avaliação criteriosa do médico. É um princípio
que vale mais ainda com a TRH
(Terapia de Reposição Hormonal), um terreno movediço".
"Parece uma conclusão precipitada", diz Alberto Soares Pereira,
presidente dos delegados estaduais da Sociedade Brasileira de
Climatério, sobre o informe.
A professora Ceci Mendes Carvalho Lopes, do setor de climatério do Hospital das Clínicas de
São Paulo, diz que as recomendações não são uma novidade.
"Nossa prática é a de informar a
paciente e de tratar cada uma de
forma individual."
(FABIANE LEITE E AURELIANO BIANCARELLI)
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