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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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CLIMA

No dia 30 de março, geólogos concluirão o primeiro levantamento em 12 anos; hoje, técnicos monitoram 250 locais

SP só conhecerá área de risco após as chuvas

DAGUITO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo só vai saber quais e quantas são as áreas de risco na cidade após o fim do verão, quando a temporada de chuvas se ameniza. No dia 30 de março, será finalizado o primeiro mapeamento dessas áreas em 12 anos, elaborado por geólogos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
"Para planejar o tratamento do doente, é preciso fazer o diagnóstico", disse o geólogo Fernando Nogueira, da Secretaria de Governo. Ele explica que somente com esse balanço a prefeitura vai poder realizar obras de prevenção efetiva, começando pelas áreas da cidade de maior risco.
Em dois anos de gestão Marta Suplicy (PT), foram investidos quase R$ 6 milhões em 32 obras de contenção -23 já inauguradas-, R$ 130 milhões em obras de drenagem -mais R$ 90 milhões emergenciais- e R$ 37 milhões em remoções de famílias.
Para 2003, está previsto investimento dos mesmos R$ 130 milhões em obras de drenagem e R$ 7 milhões em 42 obras de contenção. Dez obras a mais do que nos dois primeiros anos de governo.
O último mapeamento, realizado em 1990 durante a gestão da então petista Luiza Erundina (1989-1991), identificou e classificou cerca de 300 áreas. A Secretaria das Subprefeituras calcula 250 áreas em monitoramento por geólogos atualmente.
"[A prefeitura] só vai resolver o problema se houver um trabalho permanente e científico, e não distribuindo dinheiro depois do acidente", disse Nogueira.
Com o novo balanço, diz o geólogo, a prefeitura deverá investir exatamente nos pontos mais necessários. Ele cita o exemplo da Chácara Santana (zona sul).
A Justiça determinou no ano passado que 80 famílias fossem retiradas do local, considerado de risco. A partir de um mapeamento da região, a prefeitura definiu que apenas duas realmente precisavam ser retiradas com urgência, o restante permaneceu. Segundo ele, deixou-se de investir em transferências desnecessárias.
Carolina Michelin de Almeida, 26, está entre os 20 geólogos contratados emergencialmente pela prefeitura no ano passado para fiscalizar e avaliar áreas de risco.
Carolina trabalha, ao lado de outro geólogo, na Freguesia do Ó/Brasilândia. Ela conta que, desde outubro, a subprefeitura monitora as 31 áreas consideradas de risco da região. Segundo a geóloga, eles estudam a aplicação de pequenas obras para solucionar os problemas -como a construção de calhas para a drenagem da superfície-, mas, desde que chegaram à subprefeitura, disse ela, nenhuma obra foi realizada.
"Não fizemos nada ainda, mas indicamos os locais mais perigosos. Depende de muita coisa, é um trabalho de "formiguinha". É difícil porque não há unidade habitacional disponível", disse.
A Subprefeitura do Jabaquara (zona sul) aponta três áreas consideradas de risco. Um dos trechos mais complicados são os 2,5 km de favelas às margens do córrego Água Espraiada, onde vivem cerca de 25 mil pessoas.
"Eles [a prefeitura] tiram os barracos do barranco, mas dali a pouco [os moradores] voltam a construir de novo", diz a moradora Maria Helena da Silva, 56. Os moradores voltam aos locais por não terem outro lugar para ir.
O chefe de gabinete da Subprefeitura do Jabaquara, Homero Saes, disse que a prefeitura enfrenta dificuldades nessas áreas. Segundo ele, tentou-se criar Nudecs (Núcleos Comunitários de Defesa Civil) nessas favelas e até instalar um alarme para situações de emergências, mas não teria havido aceitação popular. "Eu queria ter conjuntos habitacionais para levar essas pessoas", disse.


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